Sem ler as matérias, Bolsonaro usa recortes de imprensa para boicotar medidas de combate à covid

Atualizado em 10 de maio de 2021 às 9:01
Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução

Nesta segunda (10), foi publicado um estudo que concluiu que crianças têm baixa taxa de transmissão de covid a adultos.

A pesquisa, coordenada por cientistas brasileiros e estrangeiros, analisou dados de 323 crianças (de 0 a 13 anos), 54 adolescentes (14 a 19 anos) e 290 adultos numa comunidade do Rio de Janeiro, Manguinhos, de maio a setembro de 2020.

Ela tem sido usada por Jair Bolsonaro e outros bolsonaristas para dizer que “ele estava certo”.

Eles provam, no entanto, que não leram a matéria. Atentaram apenas para o título.

A amostra utilizada para o estudo ainda não verificou como ocorre a transmissão em 2021, ano em que circulam novas variantes do vírus, como a P1.

O estudo prossegue para verificar se a relação é a mesma com as novas cepas.

Além disso, a taxa de distanciamento social também era maior do que agora, lembrou ao Globo a coordenadora do estudo, Patrícia Brasil, chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Doenças Febris Agudas do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz.

O mandatário ainda ignora outros fatores que constam na própria matéria compartilhada por ele.

Os autores da pesquisa defendem que a reabertura de escolas só será possível com a vacinação dos profissionais de educação.

Bolsonaro ignora que a reabertura também impõe o contato entre adultos, os próprios funcionários das escolas.

Outro fator importantíssimo que o estudo mostra e Bolsonaro ignora é de que crianças têm maior probabilidade de serem infectadas por adultos do que transmitirem a doença para eles.

Apesar de 1.203 (0,62% do total geral) crianças e adolescentes terem morrido da doença em 2020, o número pode aumentar sem a inclusão dos mais jovens na campanha de imunização.

O avanço científico na descoberta de aspectos da transmissão pela doença deveria ser usado para a tomada de decisões, discutidas amplamente, e não para provar que fulano “estava certo” ou errado.