Sem a possibilidade de Lula candidato, não há eleição legítima no Brasil. Por Luis Felipe Miguel

Atualizado em 6 de junho de 2017 às 8:55
Lula

POR LUIS FELIPE MIGUEL, professor da UnB, em seu Facebook

 

Às vezes, em meio à tentativa quase sempre frustrada de compreender a conjuntura, tenho a ilusão de entrar na alma de um golpista. E lá eu vejo, brilhando com crescente intensidade, a grande questão: o que fazer com Lula?

Deixar que ele concorra significa caminhar para uma derrota nas eleições presidenciais. Mas qual o sentido de ter eleições presidenciais se elas já aparecerem desde o início como viciadas, incapazes de conceder legitimidade ao governo que delas nascer, como ocorrerá caso um ato de força retire da competição o favorito?

Pior, esse ato de força pode ser a gota d’água para a conflagração social que o governo ilegítimo vem arriscando desde que assumiu, com sua quebra unilateral do pacto representado pela Constituição de 1988.

O destino de Lula, hoje nas mãos dos operadores messiânicos e ignorantes da Lava Jato, é chave para que se aquilate a possibilidade de retomar os rituais democráticos no Brasil. É chave o futuro próximo do país.

Entendo que haja, no campo democrático, muita gente que não vê com bons olhos um possível terceiro mandato de Lula. À esquerda, por não acreditar em sua política moderada e conciliatória, por aspirar a um programa que coloque o campo popular na ofensiva.

Ao centro, por julgar que seu nome gera paixões desnecessárias e não contribui para a redução da voltagem do conflito político.

São posições com as quais podemos concordar ou não, no terreno do debate político. Ao mesmo tempo, não é possível estar no campo democrático e não denunciar a perseguição absurda contra o ex-presidente.

É perfeitamente aceitável tentar bater Lula nas urnas, a partir de qualquer posição que seja. Mas é inaceitável batê-lo por meio de uma orquestração criminosa do aparato repressivo do Estado e da mídia.

Sem a possibilidade de Lula candidato, não há eleição legítima no Brasil. Apoie ou não o ex-presidente, qualquer democrata tem compromisso com essa posição.