“Sem saída”: Aliados abandonam Zambelli e já tratam extradição como inevitável

Atualizado em 9 de outubro de 2025 às 7:44
A deputada licenciada Carla Zambelli no Tribunal de Apelações de Roma, na Itália. Foto: Reprodução/TV Globo

A mais recente decisão da Justiça italiana de manter presa a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) consolidou a percepção, entre seus aliados, de que não há mais saída. Nos bastidores, o entorno da parlamentar reconhece que a extradição é praticamente inevitável e que as sucessivas derrotas na Itália enfraqueceram de vez a narrativa de perseguição política, conforme informações da colunista Malu Gaspar, do Globo.

Fontes próximas à deputada bolsonarista admitem, em caráter reservado, que o processo de extradição deve avançar. A mesma leitura é feita por interlocutores do governo brasileiro, que acompanham o caso em Roma.

Na última quarta-feira (8), a Corte de Cassação da Itália — instância máxima da Justiça italiana — rejeitou o recurso apresentado pela defesa de Zambelli para converter a prisão em domiciliar. Na prática, a decisão impede que ela deixe o cárcere até o fim do processo de extradição.

O tribunal manteve o entendimento da Corte de Apelação de Roma, que, em agosto, determinou o regime fechado ao apontar risco de fuga. A deputada está há mais de dois meses detida no complexo penitenciário de Rebibbia, nos arredores de Roma.

“Pelo menos no Judiciário ela não convence”, disse uma fonte do governo brasileiro que acompanha o caso. “Eles não parecem estar interessados em defender uma criminosa que disse ser intocável na Itália.”

Processo de extradição deve se arrastar por meses

A decisão da Corte de Cassação não interfere diretamente na tramitação do processo de extradição, que ainda depende de um parecer da Procuradoria-Geral da Itália. Após a manifestação do órgão, a Corte de Apelação de Roma analisará o mérito do caso.

Se o julgamento for desfavorável à deputada, a defesa ainda poderá recorrer novamente à Corte de Cassação, que dará a palavra final sobre a extradição — um processo que deve se prolongar por alguns meses.

Cassação do mandato no horizonte

Paralelamente à situação na Itália, Zambelli enfrenta um pedido de cassação que tramita na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados. Mesmo aliados admitem que a perda do mandato é dada como certa dentro da Casa.

“Zambelli é odiada por muita gente na Câmara”, disse um interlocutor da deputada, que acredita que ela será rifada até mesmo pelo próprio PL. O entorno de Jair Bolsonaro também atribui a ela parte da culpa pela derrota do ex-presidente nas eleições de 2022.

Bolsonaro afirma que Zambelli o traiu - 23/02/2023 - Mônica Bergamo - Folha
Jair Bolsonaro e Carla Zambelli. Foto: Reprodução

Um dia antes do segundo turno daquele pleito, Zambelli perseguiu e apontou uma arma para um apoiador de Lula em uma rua no bairro dos Jardins, em São Paulo. Na capital paulista, o petista obteve quase meio milhão de votos a mais que Bolsonaro.

Condenação no STF

A parlamentar também é alvo de uma condenação de 10 anos de prisão imposta por unanimidade pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), por envolvimento na invasão hacker do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Na última quinta-feira (2), terminou a licença de 127 dias do mandato que Zambelli havia tirado após sua fuga do Brasil, em uma tentativa de evitar o cumprimento da pena.