Senado paga a assessor na Bahia salário maior que do governador. Por Geraldo Seabra

Atualizado em 17 de agosto de 2018 às 23:04
Senador Roberto Muniz (PP). Foto: Agência Senado

Quando chegou ao Senado, o senador Darcy Ribeiro (PDT-RJ) descobriu que estava no céu, com a vantagem de não precisar morrer. Não é difícil entender o que queria dizer o mais influente antropólogo brasileiro, que virou senador como representante do Rio de Janeiro depois de ter sido vice-governador do Estado governado por Leonel Brizola, que comeu o pão que o diabo amassou com a oposição da Rede Globo.

Em julho, o Senado Federal pagou ao assessor de um senador que trabalha em seu escritório de representação em Salvador salário igual ao do governador da Bahia. Maurício Sancho Rios Xavier é um dos 17 funcionários comissionados do Senado que trabalham no gabinete do senador Roberto Muniz (PP) que ocupa duas salas no Condomínio Trade Center, no elegante bairro Caminho das Árvores, na capital baiana.

Em seu contracheque de julho, com a função de assessor parlamentar, Xavier recebeu salário de R$ 21.955,76, acrescido de um auxílio alimentação de R$ 982,28, totalizando R$ 22.938,04, mais que os R$ 22.400,00 recebidos mensalmente pelo governador Rui Costa (PT) durante o seu mandato.

Os outros 16 funcionários do gabinete de apoio de Muniz em Salvador recebem salários de até R$ 17.217,78, sempre acrescidos do auxílio alimentação de R$ 982,28, gerando um custo mensal ao Senado de R$ 143.839,43. Um dos salários mais baixos é pago ao motorista do gabinete, que recebe R$ 5.286,74. Equivale a mais de duas vezes o salário médio dos motoristas de ônibus urbano em Salvador, de R$ 2.613,00/mês, segundo estimativa da Love Mondays com base em informações dos próprios motoristas.

Os funcionários comissionados são de livre nomeação do senador, não pertencem ao quadro efetivo do Senado nem são concursados.

Em seu gabinete de Brasília, o senador Roberto Muniz é atendido por mais 19 funcionários, mas somente quatro deles são funcionários efetivos do Senado. Os outros são 11 comissionados e quatro terceirizados. Os comissionados de Brasília recebem salários mais modestos que os de Salvador, começando com R$ 3.134,49 e chegando no máximo a R$ 17.449,09.

Servidor recebe mais que senador

Dos funcionários efetivos, o maior salário é do chefe de gabinete: R$ 28.168,35 de remuneração básica, mais R$ 6.018,36 a título de vantagens pessoais, mais R$ 5.514,19 da função, mais R$ 3.713,93 de abono de permanência, mais R$ 982,28 de auxílio alimentação, totalizando R$ 44.397,11.

O salário do subchefe do gabinete de Muniz, também servidor efetivo do Senado, é de R$ 33.851,45. Os salários dos dois funcionários superam os subsídios dos próprios senadores, de R$ 33.763,00. O contracheque do senador Roberto Muniz informa que ele recebeu em julho menos que seu chefe de gabinete.

O senador Roberto Muniz é do PP, partido que integra a coligação de Geraldo Alckmin, candidato da coligação PSDB-Centrão à Presidência da República. Ele chegou ao Senado como suplente do senador Walter Pinheiro (sem partido), que se licenciou há dois anos do mandato para assumir a Secretaria de Educação da Bahia depois de abandonar o PT no auge da campanha pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff, de cujo governo era crítico no Senado.