Senador que recebeu Pompeo em RR deu cargo a Leo Índio, “espião” dos Bolsonaros

Atualizado em 21 de setembro de 2020 às 22:28
Léo Índio e Carlos Bolsonaro. Foto: Reprodução

Publicado originalmente pelo Brasil de Fato:

O primo dos filhos de Jair Bolsonaro (sem partido), que teria envolvimento com a produção de dossiê conta “infiltrados e comunistas”, é funcionário do senador Chico Rodrigues (DEM) – um dos acompanhantes da visita do Secretário de estado dos Estados Unidos Mike Pompeo a Roraima, na semana passada. Léo Índio, como é conhecido o agregado do clã Bolsonaro, foi nomeado como assessor especial do senador por um salário de mais de R$ 20 mil.

No ano passado, matéria do jornal O Estado de São Paulo afirmou que ele atuaria levantando informações sobre eventuais opositores do governo com cargo nas estruturas do poder público. A publicação dizia que o assessor cruzava dados, “quase sempre de maneira amadora”, para identificar pessoas “incompatíveis” com as ideologias de Bolsonaro.

Aos 35 anos, o primo dos Bolsonaro já havia chamado atenção anteriormente, por ter acesso livre às dependências do Palácio do Planalto sem nenhum cargo no governo. Nos primeiros meses da gestão, participou até de mesmo de reuniões fechadas com autoridades e ministros. Léo Índio trabalha para Chico Rodrigues desde abril do ano passado. Quando começou no cargo, negou qualquer interferência da família para a nomeação e a prática de nepotismo.

Chico Rodrigues: currículo com muitas denúncias

O senador Chico Rodrigues é apoiador do governo de Jair Bolsonaro e esteve junto com o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo na visita de Pompeo. Ele tem um histórico extenso de denúncias por corrupção.

Em 2006, Rodrigues foi acusado de participar de um esquema de notas frias que teria causado prejuízos de mais de R$ 40 milhões aos cofres públicos. Ele teria solicitado reembolsos consideráveis de gastos com combustível. Na ocasião, foi o parlamentar que mais registrou gastos com essa justificativa. O consumo de combustível declarado seria suficiente para cruzar o país algumas vezes.

Já em  2010, o senador foi condenado por gastos irregulares em campanha. Ele chegou a ter o mandato cassado e ficou inelegível por oito anos. Poucos meses antes das últimas eleições, no entanto, o Tribunal Regional Eleitoral deferiu o registro da candidatura. Rodrigues é também réu em uma ação penal que investiga fraudes em processos licitatórios para o plantio de café. O Ministério Público Federal identificou que o dinheiro de emendas parlamentares era dividido entre os participantes do esquema.

Em 2018, foi apontado como participante do esquema que ficou conhecido como farra dos coronéis. O Tribunal de Contas da União concluiu que ele causou prejuízos ao dinheiro público a partir de promoções irregulares que concedeu a oficiais do Corpo de Bombeiros Militar de Roraima.

A visita de Pompeo

O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, esteve em Roraima na semana passada para tratar de assuntos relativos a Venezuela. Ele também visitou outros países vizinhos a nação. O governo estadunidense informou que a viagem tinha objetivo de “ressaltar a importância do apoio dos EUA e do Brasil ao povo venezuelano em seu momento de necessidade, visitando migrantes venezuelanos que fogem do desastre provocado pelo homem na Venezuela.”

No entanto, a visita foi vista por muitos como uma gafe diplomática. Parlamentares brasileiros acusam o governo de Jair Bolsonaro de subserviência aos interesses do governo de Donald Trump, que está a menos de dois meses de tentar a reeleição. Há quem encare a viagem também como uma ameaça ao governo venezuelano. Senadores convidaram o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, para explicar presença do secretário de Estado dos EUA em Roraima.