Senna

Atualizado em 24 de maio de 2013 às 13:11
O último herói brasileiro

Nestes dias, Senna está numa capa de revista, num documentário.

Mais uma temporada de Fórmula 1 foi decidida, e Senna continua a ser uma figura dominante 16 anos depois de sua morte, em maio de 1994.

O que explica o fascínio de Senna?

Ele venceu três títulos mundiais. Schumacher, sete. Todos os recordes de Senna foram destruídos por Schumacher. Até o número de poles, das quais Senna tinha uma batelada, Schumacher superou. Mesmo assim Schumacher parece pequeno diante de Senna, sobretudo depois de voltar às pistas e arrastar-se atrás de jovens mais rápidos.

Morrer jovem é uma das razões do apelo de Senna, é verdade. Os ingleses têm devoção por Jim Clark, também morto numa corrida nos anos 60, ele que  foi o primeiro piloto de F1 a triunfar no circuito oval de Indianápolis, sob as vistas de americanos estupefatos. Jim Clark e Senna costumam encabeçar as listas que os ingleses fazem com os maiores pilotos de F1.

Mas ter morrido não é o motivo mais forte da pujança da memória de Senna.

Senna parecia diferente dos outros. Era como se ele fosse um centauro, parte homem, parte carro. Você não conseguia imaginá-lo longe das pistas. O centauro tinha uma vantagem considerável sobre os outros. O que para os outros parecia dificílimo, para Senna parecia simples.

Se ele nascera num carro, como esperar que não morresse num? Alguém consegue imaginá-lo grisalho, jogando tranca com os amigos? Sem pisar no acelerador?

O Brasil que dá certo. Assim ele era chamado, numa época em que os brasileiros sofriam uma hiperinflação de muitos anos. Os mais novos não sabem o que é receber o salário e sentir imediatamente que ele está derretendo. Era um alento, para os brasileiros, ver Senna apanhar uma bandeira do Brasil, depois de uma vitória, e mostrá-la ao mundo enquanto tocava na Globo uma melodia que ainda hoje faz suspirar e rememorar. Aquele corrida sob chuva em que com um carrinho Senna, calouro, estava prestes a bater o grande Prost. A rivalidade, depois, com ele mesmo, Prost, na McLaren. O primeiro título, no Japão. O segundo e o terceiro. E aquela batida, e a torcida desesperada para que ele saísse do carro. E depois o vôo que transportava seu corpo, e a dor sem paralelo dos brasileiros pela morte de seu último herói, e os pilotos carregando o caixão.

Os brasileiros tinham um dia a dia duro, nos tempos de Senna.

Mas ele tornava as manhãs de domingo ensolaradas, e é uma pena, é uma grande pena que elas tenham acabado.