Será preciso mais do que palavras para derrubar Bolsonaro. Por Moisés Mendes

Atualizado em 12 de agosto de 2020 às 7:47
O presidente Jair Bolsonaro Foto: Evaristo Sá / AFPbol

O ex-deputado Jean Wyllys chamou Bolsonaro de fascista, em 2017, foi processado pelo sujeito e venceu na Justiça porque na época era parlamentar. Tinha imunidade para dizer que Bolsonaro é fascista.

Mas Bolsonaro foi eleito e todos os dias alguém grita por alguma janela das redes sociais que ele é fascista. Chamam Bolsonaro de racista, homofóbico, machista, canalha, déspota, louco, tarado, bandido.

Bolsonaro é chamado de miliciano, merda, bosta, velhaco, escroto, infame, depravado, indecente, mentiroso, assassino, imoral.

Chamam Bolsonaro do que nunca antes alguém chamou um líder político no Brasil. Podem ter chamado por alguns adjetivos avulsos, como chamavam os ditadores e seus ajudantes.

Mas Bolsonaro é chamado todos os dias por um combo que inclui pervertido, aberração, ignorante, golpista, ogro, entreguista, repulsivo, facínora, nazista.

Joaquim Ferreira dos Santos, cronista do Globo, escreveu que a situação do Brasil ressuscitou a palavra descalabro. E que todas as outras palavras que possam ser definidoras do que vivemos hoje perderam a veemência.

E até descalabro não quer dizer nada. Eu talvez nunca vá usá-la. Sempre fui econômico com expressões superlativas. Mas entendo a fúria de quem escreve tentando gritar.

Os adjetivos contra Bolsonaro não têm o poder de feri-lo. Nem os substantivos. Impedimento, processo, cadeia. Nem os verbos. Derrubar, afastar, pôr a correr.

Bolsonaro é um gerúndio. Vai resistindo, vai cada vez mais militarizando o governo, vai debochando de todos nós.

Palavras agressivas, palavras de ordem, quase tudo virou palavra ao vento contra Bolsonaro. Não machucam, não incomodam, não constrangem, não atemorizam.

Será preciso mais do que palavras para que o Brasil se livre de Bolsonaro. Porque Bolsonaro não é um fascista do século 20. É um fascista do século 21, um déspota eleito.

A direita já derrubou políticos de esquerda também eleitos no século 21. Dilma Rousseff e Evo Morales são apenas dois exemplos. Mas a esquerda não aprendeu ainda a derrubar a direita. Talvez falte, além da ação, a palavra certa.