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Sergio Massa domina o debate na TV e Javier Milei se acovarda. Por Moisés Mendes

Sergio Massa e Javier Milei durante debate às vésperas das eleições na Argentina. (Foto: Reprodução)

Uma síntese possível do primeiro debate na TV, domingo à noite, entre os presidenciáveis argentinos: o governista Sergio Massa não só sobreviveu ao cerco dos outros pretendentes como foi o que mais passou serenidade e consistência no que tinha a dizer.

E Javier Milei, o candidato da extrema direita à eleição de 22 de outubro, o Bolsonaro argentino, acovardou-se e não defendeu suas principais ideias para a economia e a educação.

Milei só foi valente para defender a ditadura e se afirmar como liderança do fascismo.

Sergio Massa: ex-ministro da Economia, candidato governista do peronismo-kirchnerismo pela coalizão União pela pátria. Surpreendeu a quem pouco o conhece pela fala articulada e pela sobriedade, mesmo sendo todo o tempo atacado por todos os outros candidatos.

Pediu desculpas à população pela situação do país e defendeu que uma das saídas para a economia argentina é a criação de uma moeda digital. Os jornalistas argentinos da TV C5N se surpreenderam com a ênfase que Massa deu à ideia.

Enfatizou por mais de uma vez que pretende fazer um governo de união nacional e se afastou de Alberto Fernández. Apresentou-se como um candidato com ideias de centro.

Parece ser, pela vitalidade que passou, um salto de qualidade em relação a Fernández, considerado frouxo para enfrentar os problemas deixados pelo macrismo.

Javier Milei: candidato da extrema direita, da coalização Liberdade Avança. Ao vivo, num debate, é pior do que parece quando faz intervenções sem contestação. Tem um raciocínio raso para qualquer assunto.

Não explicou como pretende dolarizar a economia e como implementaria a ideia do voucher, com o qual, ao receberem recursos públicos, os pais pagariam a escola dos filhos na rede privada.

Milei lia as respostas, e num dos momentos mais patéticos disse a frase de um provérbio chinês, sempre atribuída a Mao e muito usada pelos políticos intelectualmente precários. Ao invés de dar o peixe, é preciso ensinar a pescar.

Quando decidiu mostrar as unhas como candidato do fascismo, disse que não foram 30 mil os mortos e desaparecidos durante a ditadura, mas exatos 8.753. Afirmou que os militares apenas reagiram às ações de grupos terroristas e se referiu especificamente aos Montoneros.

Myriam Bregman: advogada, da coalização Frente de Esquerda e dos Trabalhadores, a única candidata de esquerda, foi a autora da melhor frase do debate, ao se referir a Javier Milei: “Milei não é um leão, mas um gatinho mimoso do poder econômico” (o sujeito se apresenta como um leão).

Foi atrevida, atacou Massa, Milei e Patrícia Bullrich, acusando-os de responsáveis pela crise argentina. “Todos são cúmplices do poder econômico”.
Lembrou dos crimes da ditadura e defendeu organismos e instituições dedicadas ao resgate da memória e às liberdades.

Propôs a educação sexual em todas as escolas. Pelo tom atrevido em todas as intervenções e pela agilidade mental, apenas como comparação, parece ser uma Manuela Dávila argentina.

Patrícia Bullrich: a candidata do macrismo, da coalização Juntos pela mudança, é da velha direita. Estava sem forças, aquém do que se espera dela.

Como foi secretária de Segurança de Mauricio Macri, teve de se defender das ações autoritárias e violentas adotadas no governo que antecedeu ao de Alberto Fernández.

Foi vacilante, como se não soubesse se atacava Milei ou Massa. Depois de Milei, foi a grande frustração do debate. Ela e Milei vão disputar para saber quem foi o maior perdedor da noite.

Juan Schiaretti: candidato da coalizão de centro-esquerda Fazemos por nosso país, também é peronista. Falou muito da sua experiência como governador de Córdoba. Parecia o mais calmo e o mais propositivo de todos os candidatos, mas não tem energia nem votos para ser protagonista.

Pediu que Milei explicasse como aplicaria o sistema de voucher na educação, mas o imitador de Bolsonaro enrolou e não respondeu.

Quando o debate passou a ser direto, com perguntas de candidato para candidato, Sergio Massa disse a Milei que daria ao extremista 45 segundos para que ele pedisse perdão ao Papa pelas ofensas que dirigiu ao chefe da Igreja Católica.

O fascista enrolou de novo e disse o que a extrema direita costuma dizer: que sua declaração foi tirada do contexto.

Milei já fez vários ataques ao Papa. Como esse, em 15 de setembro:

“O Papa intervém na política, tem grande influência e mostrou que tem uma forte afinidade com ditadores e assassinos, como Castro ou Maduro e, portanto, está ao lado de ditaduras sangrentas”.

Antes, Milei já havia definido o Papa como “representante do maligno na Terra” e como “comunista”.

Num final do debate, Myriam Bregman afirmou, a respeito da declaração de Milei sobre o número de mortos e desaparecidos na ditadura:

“São 30 mil e foi um genocídio”.

O primeiro turno será dia 22 de outubro, e o segundo dia 19 de novembro.

Publicado originalmente em Blog do Moisés Mendes

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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/

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Moisés Mendes

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