Sergio Moro não sabia da aparelhagem clandestina de Deltan Dallagnol? Por Moisés Mendes

Atualizado em 16 de dezembro de 2025 às 20:37
Deltan Dallagnol e Sergio Moro. Foto: Jorge Araujo/ Folhapress

Até o estagiário do Ministério Público do Paraná sabe o que todo mundo há pelo menos cinco anos já sabia: havia escuta ilegal na Lava-Jato em Curitiba. A força-tarefa do MP, comandada por Deltan Dallagnol, usava um equipamento que escutava conversas telefônicas de investigados sem ordem formal da Justiça.

O Estadão voltou ao assunto agora, com uma reportagem de Aguirre Talento, que anuncia o seguinte já na manchete: “Polícia Federal pericia aparelho da Lava-Jato para investigar 30 mil gravações e suspeita de grampo ilegal”.

Só agora a PF enviou para a perícia, por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), o aparelho de espionagem modelo Vocale R3, usado entre 2016 e 2020. Por que só agora? Porque o ‘sistema’ embaralhou as investigações, desde barreiras erguidas pela PGR, passando pela corregedoria do MP e chegando ao STJ.

O Estadão informa que a investigação tramita sob sigilo desde o início do ano passado e apura crimes de interceptação ilegal, com pena prevista de dois a quatro anos de detenção.

Manchete do Estadão. Foto: Reprodução

Onde estava o aparelho? Quem o operava? Dallagnol ouvia o que era gravado? Ou só gravava para ter a gravação como souvenir?

De onde saiu esse aparelho? Sergio Moro sabia da existência da coisa? Quem foi grampeado? Onde estão essas gravações? Eliminaram arquivos? Não se sabe nada. Nada.

Cinco anos depois da descoberta de que o MP do lavajatismo escutava conversas clandestinamente, o que se sabe é pouco. Que o aparelho realizou cerca de 30 mil gravações telefônicas e que há provas de que pelo menos 341 gravações foram acessadas (ouvidas) pelos procuradores ou por alguém acionado por eles.

Prestem atenção nesse detalhe do despacho do ministro Luis Felipe Salomão, que determinou a perícia:

“Para além de uma busca por elementos altamente técnicos relacionados ao funcionamento do equipamento VOCALE R3, a perícia requerida pela autoridade policial não está direcionada ao conteúdo dos diálogos que foram gravados, mas como esse material foi armazenado, quem eram os responsáveis pela gestão do equipamento e quem teve acesso às gravações”.;

Não se saberá, pelo menos não agora, o que há nessas gravações, mas só se existem e como foram feitas. Vão descobrir alguma coisa, tanto tempo depois?

O aparelho estava guardado em Brasília. Onde estava? Sob a guarda de quem? Não se sabe. Será muito ruim se não soubermos logo.

Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/