Serra de novo?

Atualizado em 13 de junho de 2013 às 17:58
FHC

 

Aos 80 anos, Fernando Henrique Cardoso está lúcido e falante como sempre, como mostra a entrevista que ele deu à Economist – uma revista que tem muito mais prestígio no Brasil do que na Inglaterra, como descobri, surpreso, ao morar em Londres.

FHC falou, falou e falou. Para os entrevistados, as entrevistas digitais têm a vantagem de caber, qualquer que seja o tamanho original delas. As respostas não são cortadas, portanto.

FHC dissertou sobre o Brasil com o habitual distanciamento de acadêmico. Isso irrita os conservadores brasileiros, que gostariam que ele utilizasse a retórica agressiva de Reinaldo Azevedo ou de Luis Felipe Pondé para se referir a Lula e ao PT. Mas esse distanciamento é uma grande virtude, não um defeito. Decorre da honestidade intelectual.

Duas coisas me chamaram particularmente a atenção na entrevista. A primeira foi a aposta de FHC de que, caso Lula esteja bem de saúde, ele tende a ser o candidato do PT em 2014.

Batata. As ruas vão clamar. E os militantes petistas também, interessados tanto na volta do grande líder do partido como na manutenção de suas sinecuras, na classe mistura de razões públicas e pessoais que caracteriza quem vive da política.

A segunda coisa foi seu vaticínio de que o PSBD abrigará uma briga entre Serra e Aécio para ver quem é o candidato.

Serra de novo? Serra trava um curioso duelo de vontade com os brasileiros. Ele quer ser presidente, mas os brasileiros não querem.

Se FHC estiver certo e Serra insistir, tenho para mim que será a morte do PSDB – uma prova de que o partido representa hoje, basicamente, o próprio Serra. Como Serra representa a si mesmo, é muito pouco.

O PSDB precisa de uma causa, de uma bandeira, para não viver eternamente de um passado cada vez mais distante em que o partido protagonizou o fim da inflação. (Muitos eleitores jovens nem sabem que houve um tempo em que os preços no Brasil aumentavam todos os dias.)

O PT tem uma bandeira – a justiça social, aliás  o tema mais importante da agenda dos líderes dos países desenvolvidos, nos dias de hoje. Se o PSDB não encontrar um jeito de mostrar que pode ser superior ao PT para mitigar a miséria e comandar a causa da justiça social no Brasil, vai – agarrado a Serra – para o grande museu das obsolescências.