Sextorsão: golpes online criam falsas relações e chantageiam menores

Atualizado em 21 de dezembro de 2025 às 11:24
Foto de conversa em celular
Imagem ilustrativa – Reprodução

A extorsão sexual, conhecida como sextorsão, costuma começar com um falso relacionamento construído no ambiente digital. O agressor se apresenta de forma afetuosa, mantém contato frequente e cria um vínculo de confiança com a vítima, geralmente uma criança ou adolescente. Após semanas ou meses de interação, surge o pedido pela primeira foto ou vídeo íntimo. A partir desse envio, têm início as ameaças de exposição do material, que passam a orientar toda a dinâmica de controle e intimidação. Com informações do Metrópoles.

Segundo a delegada Lisandrea Salvariego, chefe do Núcleo de Observação e Análise Digital da Polícia Civil de São Paulo, o envio inicial do conteúdo marca uma mudança brusca na relação. O agressor passa a exigir novos registros íntimos e utiliza informações pessoais da vítima para reforçar a chantagem. Essas informações incluem nomes de familiares, contatos próximos e até dados de documentos, obtidos por meio de vazamentos e ferramentas ilegais disponíveis na internet.

Especialistas apontam que a prática envolve ameaça, manipulação e coerção com finalidade de abuso e exploração sexual. Para Juliana Cunha, diretora de projetos especiais da SaferNet Brasil, o uso do termo “extorsão sexual” tem sido incentivado para caracterizar corretamente a violência. Crianças e adolescentes são os principais alvos por apresentarem maior vulnerabilidade emocional e menor capacidade de avaliar riscos em interações digitais prolongadas.

Os casos identificados pelas autoridades indicam que o processo pode se estender por meses. A delegada relata situações em que o contato inicial durou cerca de dez meses até o primeiro pedido de imagem íntima. Após isso, as ameaças se intensificam. Quando a vítima tenta interromper o envio de conteúdo, o agressor reage com intimidações mais severas, prometendo divulgar o material para pais, colegas de escola e amigos, ampliando o medo e a pressão psicológica.

Carro da Polícia Civil de SP
Imagem ilustrativa – Reprodução/Agência Brasil

Em situações mais graves, a chantagem evolui para a imposição de atos de automutilação ou de violência sexual praticada à distância, com registro em vídeo ou imagem. A polícia identifica que as vítimas permanecem submetidas por acreditarem que as ameaças serão cumpridas, já que os agressores demonstram acesso a dados reais e históricos pessoais. Esse cenário dificulta a interrupção espontânea do contato e agrava os danos emocionais.

Embora meninas sejam as principais vítimas da extorsão sexual, meninos também estão entre os alvos. Há registros de adolescentes do sexo masculino que acreditaram manter relacionamento com garotas conhecidas em jogos online e redes sociais. Após o envio de imagens íntimas, passaram a ser chantageados de forma semelhante. Em alguns ambientes digitais, autoridades também observam a atuação de grupos que reforçam discursos misóginos e práticas de violência simbólica.

Outro fator recorrente é a dificuldade das vítimas em buscar ajuda. Especialistas relatam que muitas crianças e adolescentes permanecem em silêncio por medo de represálias, vergonha ou receio da reação da família. Em alguns casos, a própria família não reconhece a situação como violência, o que contribui para o isolamento da vítima e prolonga o ciclo de chantagem.

De acordo com Juliana Cunha, o primeiro passo para enfrentar a extorsão sexual é garantir que vítimas se sintam seguras para falar e procurar apoio. O segundo é assegurar que as autoridades e instituições envolvidas ofereçam uma resposta adequada, com acolhimento, investigação e orientação. A atuação conjunta de família, escola, plataformas digitais e órgãos de segurança é apontada como essencial para interromper esse tipo de crime e reduzir novos casos.

Jessica Alexandrino
Jessica Alexandrino é jornalista e trabalha no DCM desde 2022. Sempre gostou muito de escrever e decidiu que profissão queria seguir antes mesmo de ingressar no Ensino Médio. Tem passagens por outros portais de notícias e emissoras de TV, mas nas horas vagas gosta de viajar, assistir novelas e jogar tênis.