Silvio Almeida: “Neoliberalismo é necropolítica. Ponto”

Atualizado em 17 de dezembro de 2020 às 21:30
Silvio Almeida. Foto: Reprodução/Twitter

Silvio Almeida foi às redes sociais nesta quinta (17) compartilhar uma sequência de tuítes nos quais explica a diferença entre racismo estrutural e racismo institucional.

No Twitter, Silvio explicou:

Conceito é um treco importante e, por isso, faço este fio aqui para tratar da distinção entre racismo estrutural e racismo institucional (distinção central em meu livro) e que talvez nos ajude a entender alguns fenômenos:

1. Logo na abertura de meu livro afirmo que “todo racismo é estrutural”. O que significa isso? Significa que o racismo, seja em nível das relações interpessoais, seja no plano institucional, é produto de uma estrutura social racista.

2. Isso quer dizer que é justamente a reprodução da economia, do Estado, do direito e da subjetividade (ideologia) é que dá forma ao racismo, que não é uma anormalidade, mas algo inerente à sociabilidade capitalista.

3. Dizer que o racismo é institucional é “baixar” a visão quando da observação do fenômeno. O racismo existe nas instituições porque as instituições são forjadas na lógica de um mundo racista.

4. O nível institucional é local de intensos conflitos entre os grupos sociais que compõem a sociedade. Partidos políticos e sindicatos são exemplos de luta institucional, ou seja, que se dá dentro da estrutura por meio de diferentes táticas e estratégias (até jurídicas).

5. Por isso, sobre racismo institucional escrevi: “Sem nada fazer, toda instituição irá se tornar uma correia de transmissão de privilégios e violências racistas e sexistas. De tal modo que, se o racismo é inerente à ordem social, a única forma de uma instituição combatê-lo […]

6. “[…] é por meio da implementação de práticas antirracistas efetivas. É dever de uma instituição que realmente se preocupe com a questão racial investir na adoção de políticas internas que visem: […]”

7. “[…] a) promover a igualdade e a diversidade em suas relações internas e com o público externo – por exemplo, na publicidade; b) remover obstáculos para a ascensão de minorias em posições de direção e de prestígio na instituição; […]

8. c) manter espaços permanentes para debates e eventual revisão de práticas institucionais; d) promover o acolhimento e possível composição de conflitos raciais e de gênero”. (pag. 48-49).

9. Em suma: combater o racismo estrutural é pensar o horizonte de transformação plena da sociedade; combater o racismo institucional é pensar o racismo como relação de poder, tensão, consenso e violência.

10. Portanto, as chamadas práticas antirracistas (e.g. ação afirmativa/cotas) são feitas em nivel institucional e podem, eventualmente, tocar nas estruturas. (Outra exemplo: a decisão do TSE sobre candidaturas negras).

11. Mas o combate ao racismo institucional pode ser inócuo sem um olhar para as estruturas. Desse modo, não há empoderamento que resista à precarização do trabalho;

12. Não há política de cotas que dure com teto de gastos e destruição do serviço público; não há representatividade que pare em pé com genocídio. Neoliberalismo é necropolítica. Ponto.

13. A luta contra o racismo depende de uma atuação institucional que se dará no interior de muitas contradições, mas cuja efetividade está na capacidade de incidir sobre as estruturas.

14. Os tuítes serão mais raros por aqui nos próximos meses por conta dos projetos futuros. Além dos pessoais, quero me dedicar ao próximo livro em que falarei sobre Brasil na perspectiva do Estado, do direito e das relações raciais e (segue).

15. …ao meu projeto de pós-doutorado em economia com a ser supervisionado pela professora @LPaulani, pois, afinal, tenho que ser um “detrator” com conhecimento de causa.