Silvio Santos e o comentarista do SBT que criminalizou depressivos são a mesma pessoa. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 10 de fevereiro de 2018 às 15:34

 

Silvio Santos é o bufão que ocupa os domingos na televisão desde 1930, fazendo a alegria de suas colegas de trabalho ou algo que o valha. Com sua peruca, o jeito de tiozão milionário do pavê, uma certa incontinência verbal, é fácil esquecer que ele contratou, enquanto você ria, um time de comentaristas que Mussolini não teria montado.

É de uma ingenuidade abissal achar que ele não sabe de nada, que não gosta de jornalismo, que suas preocupações não passam por aí. Silvio tem uma agenda política clara e deixou isso explícito, por exemplo, quando se candidatou pelo nanico PMB, depois de tentar o PFL. Mas o indicativo mais forte é outro: se não fizesse diferença, se fosse apenas acaso, teria havido pelo menos um sujeito ideias com ideias mais arejadas ali.

Rachel Sheherazade, por exemplo, foi trazida por SS da TV Tambaú, afiliada do SBT na Paraíba, depois de uma diatribe maluca sobre o Carnaval. Parou de dar opiniões após o governo ameaçar tirar dinheiro de publicidade com a reação àquela sua antológica defesa de justiceiros.

No Paraná trabalhou por muito tempo um certo Paulo Martins, que falava em golpe bolivariano e denunciava a “ditadura de Dilma Roussef” de sua bancada, babando. Danilo Gentili é uma evolução no grau de cafajestagem e paranoia miolo mole.

Portanto, ninguém tem o direito de se surpreender com Luiz Carlos Prates, o jornalista de Santa Catarina autor de um dos textos mais criminosos sobre a depressão jamais perpetrados. Ao falar do acidente da Germanwings, Prates vomitou absurdos como o de que depressivos são “covardes existenciais” e que deviam ser “execrados” e “desprezados”.

Prates, que se diz psicólogo de formação, foi criticado em nota pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), mas é evidente que isso não dará em nada. Com o Youtube, gente como ele deixa de se limitar a sua aldeia e invade o Brasil. Ele tem longa folha corrida de serviços prestados à burrice e ao preconceito. Quando na RBS, culpou “os miseráveis” pelo aumento de acidentes de carros.

A ditadura foi responsável por um período em que o país “nunca cresceu tanto”, disse. “Estradas rasgaram o Brasil, universidades foram multiplicadas. Ciência e tecnologia começaram para valer no país sob a tutela dos militares.” Liberdade ele tinha como jovem. “Não era molestado por quem quer que seja. Eu tinha segurança de cidadão brasileiro. Hoje, saia à noite. Não tem mais segurança”.

Prates acha que precisamos de aulas de moral e cívica e tem receitas para as famílias. Uma criança “gazeteira” de 8 anos está perdida. Ela não vai mais “se emendar”. “Ela já passou de formação do caráter, que vai até aos seis anos, se tanto. Daqui em diante, será sempre um cara perigoso, para não dizer pior”, afirma.

Etc etc.

A mais recente peroração desumana é mais uma palhaçada de um empregado fiel de Silvio Santos, especializado em dizer o que o patrão quer. Apesar da semelhança com Moe, dos Três Patetas, é possível ouvir, baixinho, um “ra-raeee” depois de cada demonstração de ódio.