Sim, eu me alegro com o choro de Bolsonaro. Por Luis Felipe Miguel

Atualizado em 17 de dezembro de 2022 às 22:31
O “choro” de Jair Bolsonaro no lançamento de sua candidatura. Foto: Reprodução/Instagram

Atribuindo a informação a auxiliares do derrotado, a Folha de S. Paulo diz que Bolsonaro “afundou novamente na tristeza com a proximidade de sua saída dos palácios da Alvorada e do Planalto”. Por isso, vai interromper as aparições públicas e voltar a ficar em silêncio (aleluia!).

Do jeito que está escrito, parece que ele vai sentir falta dos imóveis. Chora, talvez, de saudade antecipada da ema.

O jornal diz, em seguida, que ele está “deprimido e inconformado com a derrota”. Imagino que sim. Bolsonaro não parece ser capaz de entender que, se as eleições são minimamente limpas, a derrota é sempre uma possibilidade.

Ou talvez até entenda, mas não se conforma porque, afinal, ele fez de tudo para que as eleições não fossem minimamente limpas.

Tenho certeza de que a principal razão do choro de Bolsonaro é outra, que a Folha deixa de lado. É sua perspectiva de futuro.

Se o novo governo tiver algum sucesso, mesmo que pequeno, na tarefa urgente de retomar a vigência da Constituição, o destino de Jair Bolsonaro é a cadeia.

E, fora da presidência, ele perde muito do único recurso que tem para evitar ser preso: a capacidade de gerar tumulto no país.

Bolsonaro sabe que o entusiasmo de seus apoiadores, dos financiadores do golpismo, vai esfriando conforme ele perde o poder de conceder benesses.

Sem a caneta na mão, ele logo se converte – parafraseando a frase imortal de Kaká – em só mais um velhote fascista andando pela rua.

Sim, eu me alegro com o choro de Bolsonaro. Ele materializa a esperança de que esteja chegando a hora da responsabilização daqueles que tantos crimes cometeram contra o povo brasileiro.

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Luís Felipe Miguel
Professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB) e coordenador do Demodê - Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades.