Carlos Bolsonaro, o filho disfuncional e guru do presidente, comete dia sim outro também dois atos falhos: o primeiro é dizer que os adversários acusam Bolsonaro e cia de fazerem o que eles próprios fazem.
A alusão tosca à tese freudiana da projeção é exatamente o que governo costuma fazer: passa o tempo todo projetando no outro os próprios cacoetes, numa visão simplória.
O segundo ato falho é quando diz que a ação daqueles que eles combatem tem método.
Na realidade, tem método, sim, mas quem se utiliza largamente do expediente é o governo, no afã de dilapidar a sociedade até que restem apenas os ‘cidadãos de bem’.
Primeiro retiraram os direitos, trabalhistas e previdenciários; depois desregulamentaram tudo – saúde, educação, ciência, assistência social, instrumentos de proteção aos vulneráveis e, entre muitos outros, a negação da vacina e da pandemia
Na sequência o descaso com a fome – como se o infortúnio de enfrentar a fila do osso fosse a coisa mais normal do mundo.
Na sequência, o que se espera é avançar sobre os bens de cada família, incentivando a venda para pagamento de dívidas.
As economias domésticas já estão indo para a cucuias, como revela reportagem do Globo.
Com a inflação nas alturas, o individamento da população chegou a níveis absurdos, na casa de 59,9% ao ano.
La se vai o dinheiro da poupança para por comida em casa. O passo seguinte, não se deve duvidar disso, é arrancar os imóveis para quitar as dívidas.
Por enquanto, a única parte do plano que falhou é deixar a população morrer à própria sorte na pandemia – pelo menos um terço tinha de ir dessa para melhor para a conta começar a fechar.
Como essa parte do plano aparentemente falhou (600 mil mortos é pouco), o negócio é dar um passo atrás agora para dar outro lá na frente em seguida.
Estrangular a população é preciso para triunfar o projeto da extrema-direita bolsonarista.
O endividamente é só mais um passo nessa direção. Durma-se com um barulho desses.
Leia a matéria do Globo:
O endividamento das famílias brasileiras bateu recorde, com o valor total das dívidas chegando a 59,9% da renda média anual, segundo dados mais recentes do Banco Central. O resultado de junho é o maior patamar desde o início da série histórica do BC, em 2005.
Com a inflação em alta e a perspectiva de um aperto maior de juros, analistas alertam que o orçamento comprimido das famílias com dívidas será um limitador adicional ao crescimento da economia nos próximos meses.
Mesmo sem considerar os financiamentos imobiliários — um crédito mais “saudável” por ser de longo prazo e representar um investimento das famílias — o endividamento é recorde: 37%. Até julho do ano passado, este patamar nunca tinha superado 30%.
Na casa da agente de educação infantil Flávia Rodrigues, na Penha Circular, bairro da Zona Norte do Rio, a palavra “dívida” entrou para o vocabulário corrente em 2021. Do salário de Flávia, sobram apenas R$ 400 para gastos básicos, que se somam aos R$ 1.300 mensais de ganhos do filho mais velho, Raphael.
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No sufoco, Flávia já recorreu a dois empréstimos neste ano, em fevereiro e em agosto e acumula dívida superior a R$ 123 mil. O valor mensal de cada uma das 144 parcelas, de R$ 858, compromete 27% da renda familiar.
— Peguei o último empréstimo por causa da inflação, porque meu salário não tem reajuste há três anos. Tenho muito medo de ficar mais endividada. E não vejo luz no fim do túnel — lamenta.
Pressão no orçamento
Em média, segundo dados do BC, o comprometimento mensal de renda das famílias com o pagamento de juros e prestações — incluindo dívidas mais longas, como financiamento imobiliário, e outras de curto prazo, como cartão de crédito ou parcelamento de compras — chegou a 30,9% em agosto, também em alta.
A inadimplência se mantém estável, em 4,2%, mas analistas temem que o peso da inflação — que chegou a 10,25% na taxa acumulada em 12 meses até setembro — force as famílias a atrasarem as prestações com o orçamento já apertado.
—Quando o consumidor paga mais caro por gasolina, alimentos, energia, começa a enfrentar dificuldades de honrar compromissos financeiros assumidos previamente. É um risco pela inflação, não por excesso de endividamento — diz Luis Rabi, economista sênior da Serasa Experian.
Demitido em outubro de 2020, o pizzaiolo Messias Costa, de 32 anos, começou a trabalhar como motorista de aplicativo e contraiu dívidas no cartão de crédito. Em março, fez acordo com bancos para pagar quase R$ 30 mil. Mas, para quitar a prestação de R$ 1.200, teve de ampliar a jornada para 12h por dia, além de cortar a folga semanal. Foi obrigado a rever hábitos de consumo da família:
— Se tenho que ir em um shopping, não vou mais, porque tudo vai gerar custo. Toda noite, desligamos todos os aparelhos, menos a geladeira. Só quando pagarmos a dívida, vamos repensar tudo.
Simão Davi Silber, professor sênior do Departamento de Economia da USP e Pesquisador da FIPE, lembra que o consumo das famílias representa dois terços do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país). E, a partir de agora, as dívidas ficarão mais caras com a perspectiva de aumento na taxa de juros pelo BC, hoje em 6,25% ao ano, justamente para conter a inflação:
— Para famílias com renda comprometida, o dilema vai ser tomar banho frio para comer. Estamos chegando a este nível, dada a pressão sobre o orçamento. Isso indica que as famílias têm capacidade de (consumo) comprometida ao longo de 2021 — avalia Silber.
— Há uma espécie de válvula que vai aliviar, ao menos até dezembro. Mas depois disso a gente não sabe porque entramos em um ano complicado.
Rodolfo Margato, economista da XP, avalia que, embora a reabertura da economia, o avanço da vacinação e a volta da mobilidade tenham contribuído para o aumento do consumo, o mercado já prevê desaceleração até o fim do ano:
— A preocupação com o aumento da inflação está mais espalhada. A elevação não se restringe mais à gasolina ou energia elétrica, mas está também no setor de serviços, industrializados. A inflação está mais persistente e a elevação de juros mais forte do que se imaginava. Já estamos alcançando um limite da capacidade de endividamento das famílias.
— É um elemento que ajuda a explicar o consumo mais fraco em 2022. Ano passado tivemos crescimento de consumo de bens na pandemia, esse ano vai ser o de serviços e ano que vem vai ser de consumo restrito, especialmente para a população mais pobre — diz ele, que prevê PIB de 0,4% em 2022.