Sinto-me indignado e triste pelo fracasso na economia e no combate ao coronavírus. Por Bresser-Pereira

Atualizado em 30 de junho de 2020 às 9:13
Luiz Carlos Bresser-Pereira. Foto: Reprodução/YouTube

PUBLICADO NO FACEBOOK DO AUTOR

POR BRESSER-PEREIRA

Como um economista brasileiro, eu me sinto há muito tempo indignado e triste diante do fracasso econômico do Brasil, cujo crescimento anual por habitante entre 1980 e 2019foi de apenas 0,7 por cento ao ano, e, diante da imobilidade do governo que foi incapaz de enfrentar e moderar a grande recessão que em três anos reduziu em 9 por cento essa renda por habitante do país.

Como cidadão brasileiro, minha indignação e minha tristeza em 2020 se volta também para o fracasso do país e do seu governo de enfrentar a pandemia do Covid-19. Enquanto outros países foram capazes de controlar a difusão do vírus, os brasileiros estão sendo vítimas de um verdadeiro genocídio cuja responsabilidade cabe essencialmente a um presidente que, ao invés de liderar a luta contra o vírus, desconsiderou sua gravidade e dificultou o mais que pôde o sistema de isolamentos e afastamentos sociais que, combinados com uma política decidida de realização de testes, poderia ter controlado a disseminação do Covid.

O gráfico comparando os novos casos por milhão de habitantes na Itália, Reino Unido, Estados Unidos e Brasil (publicado por Fernando Reinach em sua coluna no O Estado de S. Paulo de 26.6.2020) é impressionante. Ele mostra que os primeiros três países conseguiram fazer reverter a tendência ao aumento do número de casos enquanto no Brasil não há qualquer sintoma de que estejamos próximos de fazer o mesmo.

Já temos 57.174 l mortos pelo vírus, e esse número só tende a aumentar. Embora seis países tenham população maior do que a do Basil, não será surpresa se acabarmos tendo o maior número de mortos. Estamos assistindo a um frio genocídio. Já somos o segundo país do mundo em termos de novos casos (1.323.069) e também o segundo país do mundo em número de mortos. (www.worldometers.info)

Não se imagine, porém, que graças a esse desapreço pela vida, os resultados econômicos serão melhores. O PIB do Brasil deverá cair neste ano em 9 por cento. Estaremos, também nesse ponto, entre os primeiros do mundo…