Só haverá ano novo quando a pandemia acabar. Por Alex Solnik

Atualizado em 1 de janeiro de 2021 às 14:32
Imagem: SAULO ANGELO/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Originalmente publicado em FACEBOOK

Por Alex Solnik

Hoje acordei disposto a acreditar que, como indica o calendário, havia começado um ano novo.

Peguei a chave do carro e resolvi dar uma volta por aí. As ruas estavam vazias, como no ano passado. Alguns caras faziam cooper, como se dizia antigamente, o que dava ensejo a infames e obscenos trocadilhos.

Eu procurava uma padaria aberta.

A primeira, a minha preferida, porque ninguém corta o peito de peru como seus funcionários, estava fechada.

Tentei a segunda, não tão boa quanto, mas razoável. Nada.

Me aventurei até mais longe de casa. Tenho o mapa das padarias na minha cabeça. Fechada também.

Até que finalmente, numa esquina também sem movimento, achei uma. Menos bonita, mais cara, mas era o que havia.

Nada de novo. A maioria das padarias fechada, uma ou outra aberta.

Logo depois, abri o primeiro jornal do ano.

Uma foto enorme, na capa, mostrava uma senhora de rosto enrugado, segurando a mão de uma enfermeira, e a legenda dizia “idosos lutam contra covid, solidão e abandono nos asilos”.

Ligo a televisão, num canal fechado a repórter dá notícias sobre mais uma vacina que o Brasil não comprou, enquanto imagens de seringas espetando braços se sucedem, o que eu não suporto, mudo de canal.

No twitter fico sabendo que na Rússia morreram 500 de ontem para hoje e que o coronavírus mais transmissível já circula no Brasil.

“Sem vacina, plateias continuarão vazias” avisa uma chamada de primeira página.

A quarentena continua, seja amarela ou vermelha.

Manaus vai armazenar corpos em caminhões frigoríficos.

Parecem notícias de 2020, mas não, são de hoje, de 2021. E está na cara que terão suíte amanhã e depois de amanhã.

O número mudou, mas o ano é o mesmo.

Só haverá ano novo quando a pandemia acabar.

E, assim como acontece com as guerras, a gente sabe quando a pandemia começa, mas não sabe quando termina.