Só o Estado é capaz de atender os interesses coletivos em momentos de crise. Por Aldo Rebelo

Atualizado em 21 de março de 2020 às 20:06
Bolsonaro em entrevista coletiva sobre a crise do coronavírus. Foto: Reprodução

Publicado originalmente pelo Vermelho:

Por Aldo Rebelo

Na Itália devastada pela pandemia do coronavírus, uma instituição manteve-se de pé: o Exército italiano. Recolhe os mortos, providencia os funerais, patrulha cidades desertas e garante a ordem pública. É o Estado italiano zelando pelo bem comum.

Nos Estados Unidos, o governo decidiu aplicar a lei que permite que a administração federal dê ordens ao setor privado na luta contra o coronavírus. O presidente Donald Trump anunciou uma série de medidas de proteção aos americanos mais pobres e às empresas do país.

Há uma noção clara nos Estados Unidos de que um império exerce seu poder apoiado no binômio Estado/mercado, ao contrário do Brasil, onde há uma crença fanática nas razões do mercado e a ignorância completa do papel do Estado em suprir as deficiências desse mesmo mercado e corrigir suas deformações.

O presidente francês Emmanuel Macron, eleito com uma plataforma liberal, declarou que no país nenhuma empresa irá falir, mesmo que precisem ser temporariamente nacionalizadas como proclamou seu ministro da Fazenda Bruno Le Maire.

A forte intervenção do Estado chinês – construindo e improvisando hospitais em tempo recorde, operados pelo corpo de saúde do Exército – foi decisiva para debelar a epidemia, reduzir o número de mortos e conter a onda de novos contágios.

A pandemia encarregou-se de revelar o óbvio, ou seja, só o Estado nacional foi capaz, apesar de suas mazelas e deformidades, de expressar as aspirações nacionais e os interesses coletivos nos momentos dramáticos da vida dos povos.

Aqui no Brasil, o esforço nacional para debelar a ação devastadora do coronavírus precisa alcançar outro mal, de natureza ideológica, que ameaça a nação: a divisão artificial do País em torno de agendas marginais ou secundárias, entre elas a que ergue uma muralha a separar as funções do Estado e do mercado como antagônicas e excludentes.

Não é exagero ou retórica repetir que o Brasil precisa de mais Estado e mais mercado onde possam cumprir a missão de criar desenvolvimento econômico, reduzir desigualdades e gerar esperança para os brasileiros.