Só vou acreditar na lei anticorrupção quando um tucano graúdo for preso. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 25 de março de 2015 às 22:09
Guerra e Aécio
Guerra e Aécio

Montaigne conta, num de seus ensaios, que dois candidatos a um posto na Grécia Antiga debatiam publicamente.

Um deles fez um discurso longo, minucioso. Quando a palavra foi para o outro este, laconicamente, afirmou: “Vou fazer as coisas que ele disse.”

Ganhou.

As pessoas queriam menos palavras e mais movimento, mais ação.

É mais ou menos este meu sentimento diante da Lei da Corrupção apresentada, dias atrás, pelo governo.

Eu diria: o foco agora deveriam ser as ações, muito mais que as palavras.

Só vou acreditar nessa lei quando um tucano graúdo for preso, por exemplo.

Na Lava Jato, o único líder do PSDB realmente em situação complicada é um cadáver.

Há poderosas evidências de que o ex-presidente do partido, Sérgio Guerra, levou 10 milhões de reais para bloquear uma CPI da Petrobras, alguns anos atrás.

Se o presidente de um partido é seu símbolo máximo, eis aí um retrato pouco edificante do PSDB.

A posição do atual presidente tucano na Lava Jato, Aécio Neves, também não é exatamente confortável.

Para encurtar: fosse do PT, Aécio  fatalmente rumaria para a Papuda ou algum destino semelhante. Ou, pelo menos, estaria na Lista de Janot.

Youssef, o doleiro delator, disse, conforme mostra um vídeo publicado na semana passada, que Aécio dividia uma diretoria com o PP na estatal Furnas.

Por dividir, você deve entender o seguinte: metade do dinheiro desviado mensalmente ia para Aécio, e a outra metade para o PP, cujos deputados batem panelas e fazem inflamados discursos contra a corrupção.

Este Mensalão, disse Youssef, equivalia a 120 mil dólares. Quem operava para Aécio, pergunta um interrogador. Youssef fala na irmã de Aécio.

Todos sabem o papel vital de Andrea, como ela se chama, na vida de Aécio. No seu governo, era ela que administrava as verbas de publicidade oficiais.

Quem criticava Aécio ficava à míngua. E claro que, para os Neves, não havia uma afronta à ética em colocar recursos públicos nos produtos de mídia da família.

Com tudo isso, Aécio se livrou da lista.

E mesmo tendo no passivo infâmias como o aeroporto de Cláudio ele não fica vermelho ao posar como Catão e fazer virulentos discursos contra a corrupção, sempre com generosa cobertura da mídia amiga.

A melhor frase sobre o Brasil destes tempos foi pronunciada por um deputado do PSDB metido em alguma encrenca.

Com uma franqueza tonitruante, ele disse que, já que não é do PT, sabe que não será preso.

Alguém pode contestá-lo?

Então repito: só vou acreditar na lei anticorrupção quando terminar a imunidade dos tucanos – e um deles, vivo de preferência, der entrada numa cadeia.

Me segurei para não acrescentar o seguinte: e também quando um caso de sonegação como o da Globo for exemplarmente punido, como se faz em sociedades avançadas. (Por muito menos que o golpe da Globo o presidente do Bayern de Munique está preso.)

Mas não, aí já seria demais.

Sou sonhador, mas nem tanto.