Sobe para 132 o número de mortos no massacre promovido pela polícia do Rio

Atualizado em 29 de outubro de 2025 às 12:18
Os feridos em megaoperação são encaminhados para o Hospital estadual Getúlio Vargas, na Penha, Zona Norte do Rio. Foto: Gabriel de Paiva/Agência O Globo

A Defensoria Pública do Rio de Janeiro elevou para 132 o número de mortos na megaoperação policial deflagrada nos complexos do Alemão e da Penha, considerada a mais letal da história do estado. A ação, batizada de Operação Contenção, foi realizada na terça (28) e tinha como alvo o Comando Vermelho.

Em nota divulgada nesta quarta (29), a Defensoria Pública da União (DPU) repudiou o aumento da violência policial no Rio e criticou duramente a operação. “Ações estatais de segurança pública não podem resultar em execuções sumárias, desaparecimentos ou violações de direitos humanos, sobretudo em comunidades historicamente marcadas por desigualdade, ausência de políticas sociais e exclusão institucional”, afirmou.

A DPU lembrou que o Supremo Tribunal Federal (STF) já havia determinado a adoção de medidas para reduzir a letalidade policial no estado, homologando parcialmente o plano apresentado pelo governo fluminense em abril.

“A decisão do Supremo reafirma o dever constitucional do estado brasileiro de garantir a segurança pública em consonância com a proteção à vida, aos direitos humanos e à dignidade das pessoas”, prosseguiu o órgão, apontando que o combate ao crime deve ocorrer “dentro dos limites da legalidade”.

O governador Cláudio Castro reconheceu que a operação pode ter extrapolado os limites legais, mas defendeu a ação. “Tem muito pouco a ver com segurança pública. Ela é uma operação de defesa. Esta é uma guerra que está passando os limites que o estado deveria estar defendendo sozinho. Para uma guerra desta, deveríamos ter um apoio muito maior. Neste momento, talvez até de Forças Armadas”, declarou.

Corpos enfileirados em rua do Rio de Janeiro após operação policial mais letal da história da cidade. Foto: Ricardo Moraes/Reuters

A praça principal da Penha amanheceu coberta por corpos estendidos sob lonas, segundo relatos de moradores e ativistas. Durante a madrugada, mais de 60 corpos foram retirados da mata por moradores, número que não aparece nos dados oficiais do governo. Organizações de direitos humanos e entidades civis cobram investigação independente sobre as mortes.

A Operação Contenção mobilizou 2.500 agentes das polícias Civil e Militar e foi fruto de um ano de investigações da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE). O objetivo era conter a expansão do Comando Vermelho e cumprir 100 mandados de prisão, sendo 30 deles contra criminosos vindos de outros estados.

O saldo da operação inclui 93 fuzis apreendidos, além de prisões de lideranças como Thiago do Nascimento Mendes, o “Belão”, apontado como operador financeiro do CV e braço direito de “Doca”, chefe da facção.

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.