
A Defensoria Pública do Rio de Janeiro elevou para 132 o número de mortos na megaoperação policial deflagrada nos complexos do Alemão e da Penha, considerada a mais letal da história do estado. A ação, batizada de Operação Contenção, foi realizada na terça (28) e tinha como alvo o Comando Vermelho.
Em nota divulgada nesta quarta (29), a Defensoria Pública da União (DPU) repudiou o aumento da violência policial no Rio e criticou duramente a operação. “Ações estatais de segurança pública não podem resultar em execuções sumárias, desaparecimentos ou violações de direitos humanos, sobretudo em comunidades historicamente marcadas por desigualdade, ausência de políticas sociais e exclusão institucional”, afirmou.
A DPU lembrou que o Supremo Tribunal Federal (STF) já havia determinado a adoção de medidas para reduzir a letalidade policial no estado, homologando parcialmente o plano apresentado pelo governo fluminense em abril.
“A decisão do Supremo reafirma o dever constitucional do estado brasileiro de garantir a segurança pública em consonância com a proteção à vida, aos direitos humanos e à dignidade das pessoas”, prosseguiu o órgão, apontando que o combate ao crime deve ocorrer “dentro dos limites da legalidade”.
O governador Cláudio Castro reconheceu que a operação pode ter extrapolado os limites legais, mas defendeu a ação. “Tem muito pouco a ver com segurança pública. Ela é uma operação de defesa. Esta é uma guerra que está passando os limites que o estado deveria estar defendendo sozinho. Para uma guerra desta, deveríamos ter um apoio muito maior. Neste momento, talvez até de Forças Armadas”, declarou.

A praça principal da Penha amanheceu coberta por corpos estendidos sob lonas, segundo relatos de moradores e ativistas. Durante a madrugada, mais de 60 corpos foram retirados da mata por moradores, número que não aparece nos dados oficiais do governo. Organizações de direitos humanos e entidades civis cobram investigação independente sobre as mortes.
A Operação Contenção mobilizou 2.500 agentes das polícias Civil e Militar e foi fruto de um ano de investigações da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE). O objetivo era conter a expansão do Comando Vermelho e cumprir 100 mandados de prisão, sendo 30 deles contra criminosos vindos de outros estados.
O saldo da operação inclui 93 fuzis apreendidos, além de prisões de lideranças como Thiago do Nascimento Mendes, o “Belão”, apontado como operador financeiro do CV e braço direito de “Doca”, chefe da facção.