Sobre o amor das cortesãs

Atualizado em 28 de abril de 2013 às 21:36

Desta vez conversamos com Alexandre Dumas Filho, autor de Dama das Camélias, nas “Entrevistas com Escritores Mortos”.

Greta Garbo e Robert Taylor, 1936
Greta Garbo e Robert Taylor, 1936

Quando escreveu Dama das Camélias, Alexandre Dumas Filho (1824-95) teve uma inspiração e tanto para a cortesã que protagoniza seu romance — a sua própria amante. Nas palavras do próprio escritor, ambas foram “belas damas que esparramaram, em Paris, a insolente opulência de sua beleza, de suas joias e de seus escândalos”. O Diário do Centro do Mundo sentou-se à mesa fictícia com o romancista francês para conversar sobre relacionamentos com estas mulheres que vivem de vender o seu amor.

Que conquista o senhor considera mais difícil, monsieur Dumas: o coração de uma cortesã ou o de uma moça inocente?

Ser realmente amado por uma cortesã é uma vitória muito mais difícil. No caso delas, o corpo gastou a alma, os sentidos queimaram o coração, a devassidão arruinou os sentimentos. As palavras que lhe dizemos, elas as ouvem há muito tempo; os métodos que empregamos, elas já os conhecem.

Mas e o amor que elas inspiram?

Esse amor já foi anteriormente vendido. As cortesãs amam por razões profissionais, e não por motivos passionais.

E então são menos vulneráveis do que as virgens?

São melhor cuidadas por seus cálculos do que uma virgem por um convento ou uma mãe zelosa.

Mas e quando se apaixonam?

Quando Deus permite um pouco de amor a uma cortesã, esse amor, que parece em princípio uma redenção, torna-se um castigo. Não há absolvição sem penitência.

Como assim?

Quando uma criatura que tem todo o seu passado a se recriminar sente-se, repentinamente, tomada de um amor profundo, sincero, irresistível, do qual jamais se acreditou capaz, quando admite esse amor, como o homem amado passa a dominá-la! Quão forte ele se sente com aquele cruel direito de lhe dizer: “Você nada fez pelo meu amor que não tenha feito por dinheiro”.

E o que acontece?

Elas não sabem que prova dar. Uma criança, diz a fábula, após ter se divertido longamente em um campo gritando “Socorro!”, perturbando assim alguns trabalhadores, foi um belo dia devorada por um urso, sem que aqueles que ela enganara tão frequentemente acreditassem, desta vez, nos gritos de pavor verdadeiros. Acontece o mesmo com essas moças infelizes quando amam de verdade. Mentiram tantas vezes que não se pode mais acreditar nelas e, em meio a remorsos, elas são devoradas por seu amor.

Foi isso o que aconteceu com Marguerite, de Dama das Camélias?

Nem todas as moças como Marguerite são capazes de fazer o que ela fez. Longe disso, mas é do meu conhecimento que uma delas experimentou, em sua vida, um amor sério, sofreu por esse amor e por ele morreu.