Sobre o Oriente Médio: Chega de antissemitismo na esquerda e de hiprocrisia na direita. Por Jean Wyllys

Atualizado em 15 de fevereiro de 2018 às 8:24
Foto tirada por Jean Wyllys tirada durante visita a Israel e Palestina

PUBLICADO NO FACEBOOK DO AUTOR

Está circulando nas redes sociais uma nota publicada pela executiva nacional do PSOL com relação ao conflito israelense-palestino que não me representa. Não assino, não concordo e repudio energicamente seu conteúdo. A esquerda brasileira precisa fazer um debate qualificado sobre a situação do Oriente Médio — que inclui, mas não se limita a esse conflito, e que deveria considerar também a grave ameaça do terrorismo e a situação dos direitos humanos na maioria dos países da região, onde as mulheres são oprimidas, os homossexuais são criminalizados e até executados e não há democracia e nem liberdade de expressão. A obsessão de uma parte da esquerda em atacar Israel, a única democracia da região, é suspeita de estar contaminada por preconceitos antissemitas (assim como uma parcela da direita está contaminada de preconceitos islamofóbicos) que, como ativista de direitos humanos, eu acho inaceitáveis. Isso não significa, claro, que muitas políticas do governo israelense de Netanyahu não mereçam ser repudiadas, assim como as de outros governos, mas isso deve ser feito de forma qualificada, com informação e seriedade, não com discursos de ódio, e sem confundir governo, Estado e povo, como muitas vezes se faz.

Com relação à nota da executiva do PSOL, que não consultou as bases, nem a bancada, e inclusive ignorou os consensos alcançados no congresso do partido e as manifestações de algumas regionais, como a cidade do Rio de Janeiro (cujo congresso partidário municipal rejeitou por amplíssima maioria uma nota semelhante), recomendo a leitura do artigo de Bruno Bimbi, secretário de Comunicação da executiva estadual do PSOL-RJ, com o qual concordo. Vou publicar o link no primeiro comentário, procurem lá.

Contudo, além desse necessário recado para os setores antissemitas da esquerda, com os quais jamais vou compactuar, quero passar também um recado para os oportunistas da direita que se aproveitam deste tipo de equívocos de uma minoria fanática e barulhenta do meu partido: não adianta algumas figuras reacionárias e anti-esquerda da comunidade judaica — figuras apoiadoras dos golpistas corruptos e plutocratas daqui e dos abusos do governo de direita em Israel — usarem essa nota equivocada e não representativa do conjunto do PSOL para atacar as pessoas de esquerda e progressistas da comunidade judaica, inclusive aqueles sionistas de esquerda que se filiaram ao partido. Não sejam desonestos e não generalizem. Não é toda a esquerda, e nem todo o PSOL que pensa assim. Não aproveitem para fazer politicagem e difamar militantes honestos da comunidade judaica que defendem posições de esquerda e lutam contra todas as formas de discurso de ódio, venham de onde vierem!

Nem o PSOL como um todo, nem tampouco todas as suas figuras públicas fazem coro a essa nota rasa, simplista e redutora de uma questão complexa como o conflito israelense-palestino e quase ofensiva ao povo judeu como um todo. A nota é vergonhosa como vergonhosa é a falta de profundidade de quem a redigiu e a falta de responsabilidade de quem a publicou em nome de todo o partido.

Em meu nome não!

Por último, reitero que nossa posição é pela existência e autonomia de dois Estados, na linha dos acordos de Genebra (construídos por ativistas pela paz israelenses e palestinos), e que lutamos pelo fim das violências contra mulheres, LGBTs e minorias religiosas nas ditaduras do Oriente Médio inimigas de Israel, que pouco estão preocupadas com o empobrecimento da Palestina e do seu povo (ao contrário!), e nem por isso são alvo de críticas por parte de membros do PSOL ou dessa esquerda caricata.