Sobre o tratamento de Lula

Atualizado em 14 de junho de 2013 às 11:57
Lula e a mulher Mariza comemoram o título do Corinthians

 

Li, a 10 000 quilômetros do palco dos acontecimentos, que muita gente escarneceu de Lula por ele estar se tratando num hospital da elite, ao qual o brasileiro comum não tem acesso.

Há nisso uma imensa mesquinharia, é verdade. A impressão que você tem é que, ao contrário do mineiro segundo Nelson Rodrigues, o brasileiro não é solidário nem no câncer.

Mas existe aí também um ponto.

Depois de oito anos de gestão de Lula, e eu coloco nesta conta outros oito de FHC, o Brasil não tem um único hospital público decente?

Claro que essas coisas de saúde são complicadas. Há vinte anos, o cardiologista com o qual eu fazia exames periódicos era presidente do Einstein. (Cabelos brancos, perto dos 70, ele me surpreendeu um dia ao comentar animadamente um conto que eu escrevera para a Playboy.) Um dia, ele me contou que seu filho fora diagnosticado com uma doença grave e rara. Sua reação imediata e instintiva foi ligar para seus amigos médicos nos Estados Unidos para saber qual o melhor hospital americano para tratar de seu filho. O rapaz foi tratado nos Estados Unidos.

Quer dizer: para o presidente do Einstein, o Einstein não servia.

É cruel comparar o Brasil com a Inglaterra, onde a saúde pública ainda é exemplar, mesmo já não sendo o que foi. O filho Ivan do atual primeiro-ministro, David Cameron, nasceu com uma doença congênita que o mataria criança ainda. Ivan foi tratado, até a morte, em hospitais públicos. A ex-primeira ministra Margaret Thatcher, com os problemas de saúde típicos da idade avançada, também é tratada na rede pública.

Meus dois filhos tiveram que ir em diferentes ocasiões a um hospital – público — quando estiveram em Londres. Ambos ficaram impressionados, e eu também. “Parece o Einstein”, comentou um deles. Os dois foram atendidos rapidamente, primeiro por um médico mais jovem, depois pelo chefe dele.

Dilma disse, com razão, que o Brasil não será verdadeiramente grande enquanto houver tanta pobreza. (As cenas da inundação no Rio, logo no início de seu mandato, foram chocantes na exposição da miséria brasileira.)

Podemos acrescentar: o Brasil também não será verdadeiramente grande enquanto não houver hospitais públicos capazes de dar um bom tratamento a um ex-presidente adoentado.