“Sobrenome não garante emprego”, disse dona da Salton, flagrada com trabalho escravo

Atualizado em 24 de fevereiro de 2023 às 8:59
Luciana Salton – Foto: Eduardo Benini/Divulgação

180 trabalhadores foram resgatadas em condições análogas à escravidão na noite da quarta-feira (22) em operação conjunta da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Polícia Federal (PF) e Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha.

Segundo a PF e o MTE, a empresa Oliveira & Santana mantinha o trabalho escravo e possuía contratos com vinícolas famosas da região, entre elas a Salton, Aurora e Cooperativa Garibaldi, em que fornecia mão de obra para a colheita de uva.

Em 2020, a diretora-executiva da centenária vinícola que leva seu sobrenome, Luciana Salton, deu exemplo do que a elite brasileira vê como meritocracia em depoimento à revista Veja.

“Temos um lema entre nós, quase um mantra: sobrenome não garante emprego. Estou aqui, na posição que ocupo, porque quis e me preparei para isso”, afirmou ela, que afirmou ter passado a “adolescência vivendo as férias na loja da Salton, em São Paulo, vendo meu pai, Ângelo, trabalhar”.

Segundo a executiva, ela “nunca foi obrigado a nada” e só assumiu assumiu o posto de comando na empresa fundada há quatro gerações “depois de me formar em administração e ter trabalhado em outras empresas”.

Após ser flagrada com trabalho escravo, a vinícola Salton alega que não tinha conhecimento das irregularidades praticadas pela terceirizada com a qual tinham parceria. O Ministério do Trabalho e Emprego, entretanto, já avisou que ela pode ser responsabilizadas pelo pagamento dos direitos trabalhistas caso estes não sejam quitados pela Oliveira & Santana.

A operação foi realizada a partir de denúncia feita por três trabalhadores, que conseguiram fugir do local em que eram mantidos presos. Eles contam que foram “contratados” pela empresa Oliveira & Santana sob a promessa de receber salários superiores a R$ 3 mil na colheita da uva, com direito a acomodação e alimentação.

A realidade no dia a dia de trabalho, entretanto, era outra: alojamento totalmente insalubre, atrasos no pagamento de salários, jornadas exaustivas, violência física, alimentação inadequada e até mesmo cárcere privado.

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