“Somos um regime fascista”: professor de Yale deixa EUA por discordar de Trump

Atualizado em 9 de abril de 2025 às 11:46
O filósofo Jason Stanley, professor da Universidade Yale – Foto: Reprodução

O professor Jason Stanley, da Universidade Yale, nos Estados Unidos, anunciou que vai deixar o país por temer o avanço do que ele chama de “regime fascista” sob o governo de Donald Trump. Stanley, que é filósofo e autor do livro Como funciona o fascismo, afirmou em entrevista à BBC News que a atual situação política ameaça sua profissão, seus filhos e a liberdade acadêmica. Ele e outros professores da universidade aceitaram cargos na Universidade de Toronto, no Canadá.

Stanley, que é judeu e pai de filhos negros, acredita que Trump tem usado estereótipos contra judeus para atacar instituições democráticas, como as universidades. “Estamos sendo usados como marreta para o fascismo”, afirmou. Segundo ele, os ataques às universidades fazem parte de um movimento maior de repressão, como o que ocorreu com a Universidade Columbia, que cedeu a exigências do governo para manter verbas federais.

O professor destacou o caso da demissão forçada de Katherine Franke, diretora de um centro da Faculdade de Direito de Columbia, como exemplo de repressão política. Ele também criticou o uso da acusação de antissemitismo para calar vozes críticas, inclusive entre judeus que se opõem às ações de Israel na Faixa de Gaza. Para Stanley, o governo está tentando moldar o discurso público com base em interesses autoritários.

A renúncia da presidente da Universidade Columbia não mudou sua opinião. Segundo Stanley, a nomeação de uma integrante do conselho para assumir o cargo mostra que a interferência continua. Ele vê essas ações como sinais de um autoritarismo crescente, com a Casa Branca pressionando diretamente instituições acadêmicas a se alinharem ideologicamente.

Em relação aos protestos contra a guerra em Gaza, Stanley disse que muitos estudantes e professores judeus participaram das manifestações, mas foram ignorados ou rotulados como “maus judeus”. Para ele, essa divisão alimenta o antissemitismo e tenta deslegitimar o movimento progressista. “É a pior forma de antissemitismo”, declarou.

Stanley acredita que os Estados Unidos já atravessam um regime autoritário. “As instituições democráticas estão sendo atacadas. Estão prendendo estudantes por escrever artigos”, afirmou. Ele critica a influência de figuras como Elon Musk e alerta que os tribunais estão fragilizados. “Não temos mais o Estado de direito”, concluiu.

Elon Musk ao lado de Donald Trump no Salão Oval da Casa Branca – Foto: Reprodução

Segundo o filósofo, cerca de 30% da população em qualquer país tende a apoiar regimes autoritários. Ele afirma que as democracias podem se destruir por dentro, elegendo líderes que enfraquecem as próprias instituições. “É uma lição antiga da filosofia política”, disse, lembrando que figuras como Putin seguem esse mesmo padrão com alto apoio popular.

A maior questão filosófica hoje, segundo Stanley, é entender por que tantas pessoas estão dispostas a sofrer em nome de ideias autoritárias. Ele questiona por que parte da população apoia políticas que pioram suas próprias vidas apenas para beneficiar os mais ricos. “Por que tantos americanos sacrificam seu bem-estar para tornar Elon Musk mais rico?”, finalizou.

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