“Sou atacado por inimigos ocultos”, diz advogado acusado de oferecer R$ 1 milhão a desembargadora que está presa

Atualizado em 4 de junho de 2021 às 15:47
A desembargadora Ilona Reis: ela diz que teria que pagar 1 milhão para não ser arrastada para dentro da operação. Foto: Secom/MPBA

Uma reportagem a revista Crusoé, do site de extrema direita O Antagonista, afirma que, em uma carta, uma desembargadora chamada Ilona Márcia Reis (71), que está presa em um anexo da Papuda, coloca o procurador-geral da República, Augusto Aras, em uma confusão naa Operação Faroeste, que investiga corrupção no Tribunal de Justiça da Bahia. O texto tem 67 páginas e, segundo a revista, foi escrito à mão.

Na carta, a desembargadora afirma que é inocente e que foi presa porque não aceitou “comprar” sua “imunidade”. A prisão da magistrada foi ordenada pelo ministro Og Fernandes, relator da Operação Faroeste no STJ, a pedido da PGR.

Ela veio do Ministério Público da Bahia, onde atuou por 35 anos e era procuradora de Justiça antes de ser nomeada desembargadora, em 2013. No texto da Crusoé, Ilona Reis afirma ter recebido de um advogado chamado José César Souza dos Santos Oliveira uma proposta para que não fosse envolvida na operação conduzida pela PGR.

De acordo com a Crusoé, o custo seria de R$ 1 milhão.

A desembargadora fala que César Oliveira foi indicado a ela por um amigo, também advogado, porque ele teria uma relação de “intimidade” e “confiança” com Augusto Aras.  Ilona afirma que o apartamento de César Oliveira em Salvador era frequentado por Roque Aras, pai de Augusto Aras.

O DCM recebeu uma carta de José César Souza dos Santos Oliveira desmentindo informações da reportagem. Leia:

“CARTA ABERTA AOS MEUS AMIGOS

Tendo sido citado com destaque em reportagem da Revista CRUSOÉ, na qual uma corrupta desembargadora, atual hóspede do presídio da Papuda, procura envolver meu nome que poderia  frustrar os oportunos e sadios objetivos da denominada Operação Faroeste, sinto-me na obrigação de dar uma resposta à sociedade baiana, no momento em que sou atacado por uma combinação de inimigos, uns ocultos, outros nem tanto, mas que devem ter o mesmo destino da delinquente e que passaram a apelar para fake-news e ataques aos investigadores na vã esperança de que a Operação reflua e não chegue ao seu final – final este que será a assepsia e a  redenção da Justiça da Bahia.

A pedido do Professor Fernando Brandão, amigo de longa data e expoente da advocacia brasileira, recebi, em minha residência, a então investigada e ora prisioneira ILONA MÁRCIA REIS, após ter ela sido alvo da 5ª fase da OPERAÇÃO FAROESTE.

Não foi a primeira vez – e espero que não tenha sido a última – que esse amigo me indica clientes ligados à área criminal, objeto de minha longeva atuação judiciária, daí porque não estranhei o pedido e recebi a indigitada senhora.

Na conversa, depois de muitas contradições, idas e vindas, momentos em que admitia sua participação em malfeitos e outros em que negava, enfim, ostentando um discurso incoerente, ouviu do advogado signatário a seguinte fala: ‘… Desembargadora, a senhora está diante de duas hipóteses: ou cometeu crimes, ou então não os cometeu e, sendo assim, não deve ficar preocupada’.

Consultado, na mesma oportunidade, sobre a possibilidade de vir a ser advogado da mesma, neguei enfaticamente essa possibilidade, pois estava em estado pré-operatório e não poderia me dedicar na proporção que a situação exigia.

De imediato, a presidiária me questionou sobre algum advogado que poderia indicar para defendê-la, situação que também rejeitei, embora tenha citado alguns nomes de uma geração mais velha e outros mais jovens, advogados notórios na sociedade e sem qualquer espécie de relação pessoal ou patrimonial com o signatário, que não possui sociedade de advogados com quem quer que seja.
Isto posto, é bem de dizer-se que esta não é a primeira vez em que envolvidos na OPERAÇÃO FAROESTE procuram vincular o nome deste advogado às operações, ora por conta de uma amizade com o procurador Geral da República, ora com seu genitor, velho conhecido de Feira de Santana.

No que tange ao procurador Geral da República, o advogado signatário foi contemporâneo do mesmo no curso ginasial, perdendo seu contacto desde então, daí, seja porque o procurador exerce atividade pública, seja porque há muitos anos mudou-se para a Capital da República, não deixando, entretanto, de haver respeito e consideração recíprocas, além de uma profunda admiração, por parte deste advogado, em relação à brilhante carreira de seu contemporâneo ilustre e preclaro.

Estranha, por outro lado, que o jornalista Ricardo Luzbel, hoje na posse precária do site Bahia Notícias, se dê ao desplante de referir-se ao signatário depreciativamente, até porque o advogado que esta subscreve muitas vezes já ouviu, em rodas da sociedade e nos corredores forenses, o citado jornalista ser alcunhado de ‘Ricardinho facada’, em razão dos constantes achaques que pratica, circunstância que o advogado signatário não respalda.

Finalmente, afirmo categoricamente que não conheço e nunca tomei conhecimento de qualquer ilicitude praticada pelo senador, pelo deputado ou pelo empresário citados, aos quais não conheço pessoalmente; tampouco sei de qualquer fato que os vincule à Operação Faroeste.

Na semana vindoura, estarei adotando as medidas criminais e cíveis cabíveis, não somente contra a magistrada criminosa e caluniadora, como também contra todos aqueles que buscam se aproveitar maldosamente de uma estória sem pé nem cabeça, engendrada na frieza noturna de uma masmorra, para atingir uma operação que está separando os corruptos dos homens e mulheres de bem, que infelizmente, como eu, pagam o preço dessa meia dúzia de indignos, togados e de beca.

JOSÉ CÉSAR OLIVEIRA
OAB/BA 8.707″