
Cidadãos americanos, em sua maioria homens latinos, têm sido detidos por engano durante operações de repressão à imigração conduzidas pelo governo do presidente Donald Trump. Segundo uma análise do New York Times, ao menos 15 cidadãos foram presos ou interrogados desde janeiro por agentes de imigração e policiais locais recrutados para auxiliar as autoridades federais. Em diversos casos, as vítimas apresentaram provas de cidadania, mas foram ignoradas e mantidas sob custódia.
Entre os casos identificados está o de Julio Noriega, de 54 anos, detido por agentes do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) em Illinois enquanto procurava emprego. Ele foi libertado apenas dez horas depois. Outro episódio envolveu Kenny Laynez-Ambrosio, de 18 anos, nascido na Flórida, que foi imobilizado e levado para uma instalação da Patrulha Rodoviária mesmo após afirmar repetidamente: “Eu sou daqui!”. A nova lei estadual da Flórida obriga todas as forças de segurança locais a participarem das fiscalizações migratórias.
As ações federais têm sido alvo de críticas e processos judiciais. A União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU) entrou com ação contra o governo, argumentando que as batidas violam a Quarta Emenda da Constituição, que protege contra abordagens injustificadas. Embora um juiz federal em Los Angeles tenha suspendido as operações baseadas em aparência ou sotaque, a Suprema Corte reverteu a decisão, permitindo que os agentes continuem com as abordagens em todo o estado.

Casos recentes na Califórnia reforçam o padrão de abusos. Em Montebello, policiais mascarados invadiram uma oficina mecânica e detiveram dois cidadãos americanos, Jason Brian Gavidia e Javier Ramirez, ambos de origem latina. Eles foram algemados, levados para detenção e impedidos de contatar advogados. O governo alegou resistência à prisão, mas nenhuma acusação foi apresentada. Vídeos de segurança mostram que os dois não agrediram os agentes, contrariando a versão oficial.
As medidas, parte da prometida “maior operação de deportação da história”, vêm sendo comparadas a práticas da década de 1950, quando políticas discriminatórias visavam imigrantes mexicanos. Especialistas afirmam que a decisão da Suprema Corte deste mês ampliou o poder de abordagem dos agentes, permitindo que detenham qualquer pessoa “suspeita” de viver ilegalmente no país, mesmo sem base factual.
As detenções arbitrárias vêm gerando medo nas comunidades latinas. Muitos cidadãos passaram a carregar seus passaportes no dia a dia para evitar constrangimentos ou prisões injustas. “Se as pessoas estão sendo paradas apenas por causa da aparência, isso é um problema sério”, disse Daniel Garza, ex-policial e líder do grupo conservador Libre Initiative. Para trabalhadores como Leonardo Venegas, da Flórida, a sensação é de insegurança permanente: “Não consigo mais trabalhar em paz. Estou sempre nervoso.”