Redações de alunos das escolas estaduais de São Paulo passam a ser corrigidas por inteligência artificial (IA), segundo a Folha de S.Paulo. A plataforma Redação SP, lançada em agosto, antes focada em erros gramaticais e ortográficos, agora oferece correção completa, abrangendo coerência, argumentação e adesão ao tema, além de atribuir uma nota ao texto.
Embora a correção seja instantânea, os resultados não são enviados diretamente aos alunos, mas sim aos professores. Os docentes têm a possibilidade de validar integralmente a correção ou ajustar a avaliação feita pela plataforma em um ou mais critérios, aumentando ou diminuindo a nota. Eles também podem editar o feedback automático gerado pela IA e inserir comentários no texto.
A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo espera que a IA reduza a fila de correção. Desde o lançamento da Redação SP, cerca de 3,5 milhões de textos foram produzidos por estudantes do 6º ano do fundamental ao 3º do médio. Com aproximadamente 2,4 milhões de alunos nessas séries, a média foi de quase 1,5 redação por estudante no semestre letivo.
A secretaria identificou um alto número de redações não corrigidas, chegando a 800 mil em novembro. Na época, a Redação SP só apontava erros gramaticais e ortográficos.
Anteriormente, o estudante corrigia os erros indicados pela plataforma e enviava o texto para o professor, que manualmente atribuía uma pontuação para cada critério da correção, resultando na nota final.
Esse processo demandava muito tempo, especialmente considerando que cada sala de aula tem entre 30 e 40 alunos e que os professores costumam lidar com mais de uma turma. Muitos textos não eram corrigidos, desestimulando os alunos.
No primeiro semestre de operação da Redação SP, a Secretaria de Educação registrou um tempo médio de correção de duas semanas. Com a nova ferramenta de correção completa, a meta é agilizar esse retorno, incentivando a produção dos estudantes.
Educadores consultados pela Folha consideram a plataforma de inteligência artificial interessante para auxiliar os docentes e aumentar a produção e correção de textos, estimulando os alunos a escreverem mais.
No entanto, é necessário cuidado para que a IA não distancie os professores das dificuldades dos alunos. Com os textos já corrigidos, os docentes podem perder a noção dos erros dos estudantes e deixar de orientá-los.
A Secretaria de Educação afirmou que os professores precisam validar a correção feita pela IA, mas reconhece que não recebem informações sobre os erros ortográficos e gramaticais cometidos pelos alunos e corrigidos com ajuda da plataforma antes da entrega do texto. Os técnicos responsáveis pela criação da plataforma mencionaram que podem desenvolver uma ferramenta para registrar esses erros e compartilhar as informações com os professores.
Além disso, a secretaria destacou que terá dados sobre o nível de interferência dos professores na correção feita pela IA. Será possível identificar se eles apenas validaram a correção automática ou realizaram alterações, e em quais pontos a avaliação foi modificada.
As aulas de redação ocorrem em salas com um computador para cada estudante, sendo ideal que a produção de textos seja feita na escola. Em casa, os alunos são encorajados a escrever o rascunho à mão, uma prática para o Enem e outros vestibulares que não permitem o uso de computador.
A plataforma oferece propostas de redação de diferentes gêneros textuais e contempla os modelos exigidos pelo Enem e Fuvest, com diferenças no formato e critérios de correção. Os temas são elaborados pela Secretaria de Educação, mas os professores podem inserir propostas próprias.
A partir do próximo ano, a secretaria planeja ter um panorama mais detalhado sobre a produção e correção de redação em cada escola, enviando especialistas para auxiliar os docentes no uso da Redação SP. Esses assistentes são professores de português nomeados ’embaixadores da redação’.