SP: Para fraudar a perícia, corpos de mortos da Operação Verão eram levados a hospitais

Atualizado em 6 de março de 2024 às 22:12
Montagem de duas fotos de Rodnei da Silva Sousa gesticulando e olhando para a câmera
Rodnei da Silva Sousa, de 28 anos, foi morto em 4 de fevereiro durante a Operação Verão – Arquivo pessoal

Funcionários do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) da Baixada Santista e de um hospital em Santos reverlaram que durante a intensificação da Operação Verão pela Polícia Militar (PM) em fevereiro, após o assassinato de um policial, indivíduos baleados pelas forças policiais já estavam sem vida quando chegavam às unidades de saúde.

Ao removerem os corpos do local dos incidentes, a perícia enfrenta dificuldades significativas, prejudicando a identificação precisa das circunstâncias da morte. Esta ação obscurece se o falecimento foi resultado de homicídio ou de uma Intervenção Policial, conforme esclarecido por especialistas em segurança pública.

Se confirmada, a retirada dos corpos pode ser considerada fraude processual, sujeita a penalidades previstas na lei. Este ato, de acordo com promotores e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, pode incorrer em detenção de três meses a dois anos, além de multa.

Obtidos pelo g1, dez boletins de ocorrência relacionados a 17 das 39 mortes registradas durante a operação da PM revelaram um padrão. A polícia justifica as mortes como resultado de confrontos com indivíduos armados, afirmando que os suspeitos não sobreviveram aos ferimentos.

“Os policiais foram recebidos a tiros e houve confronto. Um suspeito foi atingido e levado ao Pronto-Socorro, mas não resistiu”, dizem os documentos.

Boletim de ocorrência sobre morte de Rodnei Sousa
Boletim de ocorrência informa que Rodnei Sousa foi encaminhado com vida ao hospital – Reprodução/g1

Contrariando as informações nos boletins, funcionários do sistema de saúde de Santos afirmam que os indivíduos baleados e mortos não foram socorridos ainda com vida. Relatos indicam que os corpos são removidos para evitar perícia adequada.

“A própria polícia traz, traz, deixa aí… Já chega morto, já…. [Fazem isso] Só pra tirar [do local onde baleou a pessoa]”, pontuou um funcionário que trabalha na Santa Casa, um dos hospitais que mais receberam vítimas da operação na Baixada Santista.

Já uma funcionária do Pronto Socorro Vicentino, em São Vicente, contou que três dos cinco homens baleados na cidade, no dia 28 de fevereiro, já chegaram mortos: “Chegaram em óbito pra nós. Foi uma troca de tiro com a polícia. E quando deu entrada já estava em óbito”.

Em entrevista ao g1 e à TV Globo, o porta-voz da PM de São Paulo, Émerson Massera, declarou que as denúncias estão sob análise. Enquanto isso, a Secretaria da Saúde de Santos anunciou que abrirá uma sindicância interna para investigar os fatos narrados.

A preocupação com a preservação da cena do crime é destacada, pois a ausência do corpo dificulta a realização de uma perícia eficaz. Especialistas alertam para possíveis implicações na investigação criminal e exigem uma análise aprofundada das circunstâncias.

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