SP: Primo de secretário recebe R$ 880 mil da prefeitura para cantar em quermesses

Atualizado em 14 de outubro de 2025 às 14:58
Rodrigo Goulart, secretário de Desenvolvimento Econômico e Trabalho da prefeitura, e Davi Goulart (de óculos), seu primo. Foto: Reprodução

A Prefeitura de São Paulo pagou R$ 880 mil em cachês ao cantor Davi Goulart, primo do secretário de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, Rodrigo Goulart. Mesmo com apenas sete ouvintes mensais no Spotify, o artista foi contratado nove vezes pela Secretaria de Cultura, sempre sem licitação, sob a justificativa de ser um “artista consagrado”.

Cada show recebeu cachê de R$ 50 mil, valor muito acima do teto municipal de R$ 3,5 mil por apresentação. Os contratos começaram em junho de 2023 e somam, até agora, R$ 880 mil, montante que pode chegar a R$ 930 mil após o pagamento da apresentação mais recente.

Segundo documentos da prefeitura, a “consagração” do cantor se baseia em um vídeo antigo de Neymar elogiando uma música dele, gravada em 2013. Rodrigo Goulart, o secretário, já havia publicado vídeos agradecendo o apoio do primo em campanhas eleitorais, mas apagou as postagens após o caso vir à tona.

Veja o vídeo de Neymar

A Secretaria de Cultura afirmou em nota que “todas as contratações seguem critérios legais” e que cada processo inclui “documentos que comprovam a consagração e valores compatíveis de mercado”. O secretário preferiu adotar a nota oficial da prefeitura como seu posicionamento.

Os shows de Davi foram viabilizados por emendas parlamentares apresentadas pelo próprio Rodrigo Goulart, quando ainda atuava como vereador. Em 2023, ele destinou R$ 700 mil ao Circuito Cultural de Rua, programa que banca apresentações em festas de bairro e quermesses. Pouco depois dos repasses, o primo passou a ser contratado para os eventos. No Instagram, Davi chegou a agradecer ao secretário “pelo apoio”.

Nos últimos dois anos, Rodrigo concentrou suas emendas na produtora Fino Tom, a mesma que representa o cantor. Entre 2023 e 2024, foram 47 emendas, somando mais de R$ 3 milhões, quase sempre condicionadas à contratação de artistas específicos. Três nomes da produtora (Nandu Carvalho, Os Disponíveis e a banda Fun7) receberam juntos R$ 1,1 milhão em recursos públicos.

As justificativas para os contratos de Davi repetem os mesmos trechos copiados do site do artista e foram mantidas sob sigilo. Elas citam participações antigas em álbuns independentes e o suposto elogio de Neymar, usado como prova de reconhecimento público. As apresentações listadas em sua agenda, no entanto, mostram apenas shows em bares da zona sul e festas de bairro.

Nas notas fiscais apresentadas como referência de preço, Davi aparece recebendo até R$ 24 mil para cantar em intervalos de bingos de paróquias ligadas à base eleitoral da família Goulart. Desde então, as notas usadas como comparação passaram a indicar valores entre R$ 50 mil e R$ 51 mil, todas de empresas intermediárias e sem comprovação de pagamento.

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.