Na matéria “Como o lobby pró-Israel age para pressionar políticos progressistas no Brasil”, publicada por este Diário do Centro do Mundo no dia 01/09/2025, a jornalista Sara Vivacqua incorre em uma série de inverdades, insinuações e acusações caluniosas que é preciso esclarecer.
A matéria se refere ao trabalho educacional da StandWithUs Brasil no parlamento brasileiro de forma preconceituosa e conspiracionista, acusando a instituição –– sem qualquer evidência e citando supostas fontes anônimas –– de ameaçar parlamentares com “ações na justiça”, “intimidar” e até de “gravar conversas”.
A matéria inteira é um típico exemplo do “mito da conspiração judaica mundial” que o historiador Norman Cohn tão bem descreve em sua clássica obra.
Diante dessa situação, através deste direito de resposta, esclarecemos:
- Ao contrário do que é afirmado na matéria, não iniciamos ações na justiça contra parlamentares, nem mesmo contra alguns que de fato proferiram discursos antissemitas ou divulgaram fake news e/ou discursos de ódio, porque acreditamos que é muito mais saudável e eficaz conversar, explicar, oferecer informações e argumentos e tentar erradicar esses preconceitos de forma pedagógica –– não de forma punitivista. Não denunciamos; educamos.
- Quando a jornalista do DCM entrou em contato conosco, ela disse que queria conhecer o nosso posicionamento sobre “denúncias” de antissemitismo realizadas pela instituição contra parlamentares. Pedimos que nos informasse o número de processo, e então ela emendou, falando que se referia a “ameaça de denúncias”, caso os supostos parlamentares cujo nome não mencionou não “retirassem o apoio à Palestina”. Informamos a ela que não ameaçamos com denunciar ninguém e que, no nosso entendimento, “apoiar a Palestina” não constitui antissemitismo.
- Mesmo assim, a matéria foi publicada com essa mentira, acrescentando outra, muito grave, que não tinha sido mencionada por ela na entrevista: que nós “gravamos conversas” com parlamentares. Por motivos éticos óbvios, não gravamos conversas com NINGUÉM, parlamentar ou não. A mera insinuação disso é ofensiva e caluniosa. De fato, sequer divulgamos imagens das reuniões que realizamos, ou seu conteúdo, porque sabemos que, no clima atual de ódio e polarização no debate público, muitas pessoas temem o linchamento público dos intolerantes e preconceituosos que querem impedir o diálogo. Anular o outro como interlocutor é um dos passos fundamentais da desumanização.
- A StandWithUs Brasil é uma instituição educacional formada por uma equipe de reconhecidos profissionais de diferentes áreas, cuja missão é educar sobre Israel e combater o antissemitismo. Somos uma instituição brasileira e, portanto, rejeitamos veementemente a acusação de “infiltração do lobby israelense” feita pelo DCM, que recorre ao tópico antissemita da dupla lealdade, que deu origem à condenação do capitão francês Alfred Dreyfus no século XIX.
- Como instituição educacional, prezamos pelo diálogo respeitoso, a troca de informações e o debate de ideias, fundamentais em qualquer sociedade livre e democrática. Acreditamos também que a educação é o caminho para a paz.
- Somos uma instituição apartidária e temos como regra não apoiar candidatos/as e nem intervir no debate político sobre questões alheias à nossa missão institucional. Dialogamos com todos os setores da sociedade sem distinções políticas, da mesma forma que outras instituições o fazem (e algumas defendem posições opostas às nossas em relação ao conflito israelo-palestino, sem serem por isso estigmatizadas pelo DCM). Agimos da mesma forma que outras ONG de direitos humanos, LGBT, ambientalistas, feministas etc. Faz parte do jogo democrático e, curiosamente, só é tratado como “lobby” no caso dos judeus.
- Talvez o objetivo da matéria do DCM tenha sido precisamente esse, para coibir ou amedrontar aqueles que aceitam dialogar e ouvir o nosso lado, falando para eles que podem ser gravados, expostos, ameaçados, denunciados –– e projetando em nós essa conduta antidemocrática. Não, ela não é nossa.
- A matéria também afirma que a StandWithUs enviou “uma carta a [parlamentares] signatários de uma nota em apoio à criação da Frente Parlamentar pelos Direitos do Povo Palestino”, questionando essa iniciativa. É falso: a nota assinada pelos parlamentares não era em apoio à criação dessa frente, que é uma iniciativa legítima, mas em apoio ao grupo terrorista Hamas. Nós somos a favor dos direitos do povo palestino, que o Hamas viola sistematicamente.
- Na matéria, são citadas breves frases retiradas de e-mails, completamente fora de contexto, de forma que parece se tratar de algum tipo de pressão ou intimidação (termos usados pela jornalista). Por exemplo: «Uma deputada federal recebeu e-mail de Bimbi em tom incisivo, no qual ele cobrava resposta imediata a pedidos anteriores de encontro. (…) [Ele] reforçou a cobrança: “Não entendemos o porquê da recusa a DIALOGAR conosco”».
- É evidente que a jornalista teve acesso à troca de e-mails com essa deputada, mas decidiu recortar de forma maliciosa seu conteúdo. Por isso, encerramos nossa resposta com outro trecho dessa conversa, que é bem ilustrativo da deturpação que é feita, na matéria, não apenas do nosso trabalho educacional, mas também da maneira em que nos relacionamos com as pessoas. Veja-se a seguir a cordialidade e a relação amigável que sempre existiu com ela (cujo nome não mencionaremos por respeito à confidencialidade), muito diferente do tom de “intimidação”, “pressão” e “ameaças” apresentado pelo DCM:
« Sim, a gente pensa diferente sobre isso, muito diferente, e é uma pauta sensível, que nos mobiliza … não apenas politicamente, mas também emocionalmente. Eu respeito tua posição e a sinceridade com que você a expressa, mesmo discordando radicalmente … Contudo, mesmo assim, acho importante dialogar. Não acredito que as diferenças devam ser tratadas como um muro intransponível, muito menos uma interdição ao contato, ao diálogo, à possibilidade de sentar na mesma mesa, até porque não somos inimigos, apenas pessoas que discordam sobre isso –– ao mesmo tempo que concordamos sobre inúmeras outras coisas.
»E … mesmo que não mudemos de opinião sobre as questões de fundo mais difíceis, é possível, sim, desfazer alguns mal-entendidos e evitar as manifestações mais dolorosas do desacordo. Vou ser mais explícito: eu acredito que … poderiam continuar defendendo a “causa palestina” de acordo com a sua leitura do conflito (que eu continuarei achando equivocada) sem fazer isso recorrendo a expressões, narrativas, teorias conspiratórias, fake news e discursos que são extremamente ofensivos e preconceituosos e que estão contribuindo ao aumento do antissemitismo na sociedade brasileira. É um tema difícil de conversar? Sim, mas é necessário, e a gente faz essa conversa com muito respeito e sem divulgar nas redes ou fazer “cancelamento” ou coisa do tipo. Reservadamente e com muita educação.»