Suásticas e bullying levam MPSP a investigar colégio de elite em SP

Atualizado em 2 de novembro de 2025 às 8:24
fachada do colégio particular Santa Cruz
O colégio particular Santa Cruz – Reprodução

O Ministério Público de São Paulo instaurou uma apuração de notícia de fato no Grupo Especial de Combate aos Crimes Raciais e de Intolerância para investigar denúncias envolvendo racismo, bullying e símbolos nazistas no Colégio Santa Cruz, instituição de ensino privada localizada em Alto de Pinheiros, na zona oeste da capital paulista. Com informações do Metrópoles.

A investigação teve início após a mãe de uma estudante procurar o órgão para relatar um episódio ocorrido no início de outubro, quando um aluno entregou um trabalho contendo o desenho de uma suástica a um professor negro, acompanhado por um assistente judeu em sala de aula.

Segundo o relato, o professor ficou emocionalmente abalado ao receber o material, chorou e deixou a sala. Ele não teria retornado às atividades desde o episódio. A mãe da estudante, que prefere não se identificar por receio de retaliações contra a filha, afirmou que esse não é o primeiro caso envolvendo símbolos nazistas circulando pela escola.

Ela relatou que, na semana anterior, um grupo de alunos teria pichado a sala do grêmio com suásticas. O local, segundo ela, é frequentemente utilizado por estudantes negros, homossexuais e judeus, que buscam ali um espaço para permanecer durante o recreio, alegando medo de sofrer bullying no pátio principal.

Ministério Público de São Paulo
Ministério Público de São Paulo – Reprodução

A mulher também afirmou que o Colégio Santa Cruz, considerado uma das instituições privadas mais tradicionais da cidade e que possui mensalidades superiores a R$ 6 mil, tem um histórico de episódios envolvendo violência entre estudantes.

Em janeiro deste ano, a direção suspendeu 34 alunos após casos de bullying praticados em grupos de WhatsApp, com quatro expulsões registradas posteriormente. A mãe avalia que a medida disciplinar não foi suficiente para evitar novas ocorrências e que alunos pertencentes a minorias continuam vulneráveis.

Ela declarou que familiares e estudantes já fizeram denúncias internas, mas que a instituição não teria adotado ações pedagógicas consideradas eficazes para enfrentar o problema. Segundo o relato, esses alunos permanecem evitando áreas comuns da escola para não serem alvo de agressões ou insultos.

A responsável questionou publicamente o trabalho educacional desenvolvido diante da reincidência dos atos e do clima de hostilidade apontado.

O Colégio Santa Cruz foi procurado para comentar a apuração em andamento, mas não respondeu até a publicação. No início de outubro, após a repercussão do episódio envolvendo o professor negro, a escola divulgou nota expressando indignação com atos de antissemitismo e racismo.

A direção informou que tais condutas ferem os valores institucionais e declarou que os educadores trabalham de forma contínua o tema com os estudantes. A instituição ainda ressaltou que os alunos envolvidos foram identificados e que responsáveis compareceriam a reuniões para a definição de eventuais medidas educacionais.

Também houve mobilização interna de alunos do ensino médio, que organizaram manifestações de repúdio ao episódio dentro do ambiente escolar. Já a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo informou que, até o momento, não há registro policial formal relacionado ao caso, não sendo identificada ocorrência vinculada à denúncia na base de dados consultada.

A apuração conduzida pelo Ministério Público segue em andamento e deve considerar relatos, evidências e eventuais registros produzidos pela coordenação pedagógica da instituição. A atuação do órgão ocorre no âmbito de investigações relacionadas a crimes de preconceito, intolerância religiosa e violência psicológica no ambiente escolar, com suporte de grupos especializados na temática.

Jessica Alexandrino
Jessica Alexandrino é jornalista e trabalha no DCM desde 2022. Sempre gostou muito de escrever e decidiu que profissão queria seguir antes mesmo de ingressar no Ensino Médio. Tem passagens por outros portais de notícias e emissoras de TV, mas nas horas vagas gosta de viajar, assistir novelas e jogar tênis.