Suco de laranja escapa do tarifaço: casamento tóxico com os EUA agora tem cláusula cítrica

Atualizado em 1 de agosto de 2025 às 6:49
Colheita de laranjas brasileiras para exportação. Foto: reprodução

Por Rollo

Dizem que o amor tudo suporta. E, no caso da relação Brasil–Estados Unidos, isso inclui sobretaxa, humilhação comercial e um baita suco de submissão tropical servido geladinho com rodelinha de cinismo e raspas de dependência estrutural.

Enquanto Trump — sim, ele mesmo, agora em modo Zumbi Presidencial, com poderes executivos ativados por aplausos de MAGA e nostalgia racista — empurra um tarifaço de 50% nos produtos brasileiros, o suco de laranja foi poupado. Por quê? Porque a Flórida virou terra arrasada — vítima da crise climática, negacionismo e monocultura estúpida que trocou biodiversidade por lucro imediato — e agora as lavouras estadunidenses foram pro vinagre. Ou melhor, pro limão sem açúcar. Resultado: os EUA dependem do suquinho verde-amarelo até pra molhar a granola matinal dos aposentados da Fox News e manter o café da manhã dos patriotas brancos minimamente hidratado e moralmente equilibrado.

“Estamos casados com os estadunidenses”, confessou, sem piscar, um diretor da CitrusBR — com a tranquilidade de quem acha romântico pagar pensão em dólar, ser traído com tarifa e ainda manter o nome do parceiro no altar da diplomacia comercial. É um casamento no civil, no religioso e no comercial — onde querem que o Brasil entre com a fruta, a mão-de-obra e o silêncio; e os EUA entrem com o tapa, o imposto e o cinismo geopolítico.

E o pior: tem gente achando lindo. Exportadores pulando de alegria como se exceção tarifária fosse convite pro Baile da Casa Branca, e não só mais um lembrete de que somos tolerados por necessidade — e descartáveis por padrão. Como se ser a amante laranja da potência imperial fosse sinônimo de soberania econômica. Spoiler: não é! É só um acordo velado de dependência, maquiado de “parceria estratégica”, em que eles gritam “America First” e a gente corre pra lavar a jarra e adoçar o suco — com lágrima de trabalhador — colhido a R$ 5 a caixa.

Donald Trump em caricatura.. Foto: Reprodução

A castanha-do-brasil também entrou na lista VIP da exceção. Talvez por ser um snack saudável o bastante pra manter a hipocrisia estadunidense em forma, enquanto alimenta a culpa ecológica de quem consome destruição de floresta com selo de “orgânico”.

Enquanto isso, soja, carne, aço e dignidade são espremidos no mesmo liquidificador de sempre: aquele onde o rótulo diz “livre mercado”, mas o manual de uso diz “exploração terceirizada com afeto”.

E o empresariado brasileiro? Sempre elegante na servidão! Apático, sorridente, e agora sustentável, segue servindo o suco com canudinho biodegradável, embrulhado em orgulho terceirizado e marketing de “o agro é pop”. Fazem fila pra agradecer o privilégio de serem os escolhidos da vez, sem perceber que são apenas os menos descartáveis até que surja alguém mais disponível, mais barato e mais silencioso.

A verdade é que o suco escapou da tarifa, mas não escapou do roteiro de sempre: uma elite brasileira batendo palmas para sua própria subalternidade, enquanto desfila de joelhos pelo tapete vermelho da desigualdade internacional. A cada safra, uma nova oportunidade de reforçar nossa vocação de colônia premium: com ISO, selo verde e discurso pronto para o mercado externo.

Essa exceção deveria soar como alerta, não como alívio. Não é exatamente saudável estar “casado” com um país que te espanca no atacado e depois oferece um desconto simbólico no varejo como se fosse aliança de compromisso.

E se há algo mais cítrico que o suco, é o gosto amargo de um empresariado que ainda acha que ser útil ao império é o mesmo que ser respeitado.