Surgiu no debate da Globo o embrião de uma grande aliança contra o fascismo. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 6 de outubro de 2018 às 6:15
Boulos, Ciro e Haddad na Globo

Último dos debates antes da votação do primeiro turno para as eleições de 2018, a grande novidade que se viu na Globo foi a mudança de postura dos candidatos do campo progressista, não necessariamente de esquerda.

Praticamente definido o segundo turno entre Fernando Haddad e Jair Bolsonaro, os demais candidatos, publicamente ou não, já se veem agora diante à inapelável decisão de que posição tomar frente ao que será o mais importante passo da democracia pós-ditadura militar.

Guilherme Boulos, cujo desempenho normal já se encontra muito acima da média, ontem (4) simplesmente brilhou.

Disparado o melhor e mais seguro entre todos, para além de expor um programa de governo genuinamente de esquerda, nos jogou na cara a responsabilidade histórica que cada brasileiro possui em combater até seus últimos esforços todo o fascismo, a barbárie e a repressão contida num só único candidato.

Boulos mostrou para todos nós que o que se está em jogo não pode ser minimizado tão somente entre candidaturas e projetos pessoais, mas, sim, numa bifurcação de caminhos cujos destinos podem nos levar ao reencontro da plena democracia ou direto para a vala comum da iniquidade humana.

Fernando Haddad, que de todas as suas participações encontrou a sua melhor performance até aqui, não deixou por menos.

Ciente do peso que todos os resultados das pesquisas eleitorais lhe impõem como o combatente a seguir à segunda etapa, mostrou-se com a firmeza, a tranquilidade e a determinação que se espera de alguém que terá a missão de representar no segundo turno todos aqueles que não admitem que esse país retorne aos seus tempos mais sombrios.

Ciro Gomes, seguramente o que mais se reposicionou em relação aos demais debates, finalmente encarou a realidade fria dos números com a altivez de quem se quer um estadista.

Sereno, comedido e cuidadoso com suas palavras e, sobretudo, com os efeitos que elas podem causar, centrou fogo em quem realmente se apresenta como o grande inimigo da democracia.

Sem se despir da figura de candidato, defendeu o voto na sua candidatura, mas, acertadamente, lembrando que a grande batalha a ser travada não deve ser a sua em ir para o segundo turno, mas, sim, a vitória da dignidade humana sobre a selvageria.

É claro que celeumas e questões menores ainda precisam ser resolvidas, mas é possível que no debate da Globo tenhamos presenciado o embrião de um grande acordo contra o fascismo.

Candidaturas como a de Marina Silva, Henrique Meirelles e até mesmo de Geraldo Alckmin, tem ciência do que representaria um irracional como Jair Bolsonaro na presidência da República.

Da mesma forma, não ignoram que a história os cobrará por um posicionamento a seu favor simplesmente em função de um antipetismo insano e irresponsável.

Entre uma coisa e outra, nada será mais indigno para qualquer um deles do que a indecorosa neutralidade. A quem seguir por aí, estará selando o seu destino político.

Como já afirmei aqui anteriormente, superado o primeiro turno, é preciso que bandeiras partidárias caiam por terra para que um único objetivo, infinitamente maior do que qualquer vaidade pessoal, possa ser atingido.

O do retorno à condição de um país que é regido pelo Estado Democrático de Direito.