“Surto psicótico”: as desculpas do caminhoneiro por falsa bomba no Rodoanel

Atualizado em 24 de novembro de 2025 às 9:12
O caminhoneiro Dener Laurito. Foto: reprodução

O caminhoneiro Dener Laurito dos Santos, que ganhou repercussão nacional após bloquear o Rodoanel, em São Paulo, com seu caminhão e gerar pânico com um simulacro de bomba, falou publicamente pela primeira vez sobre o episódio. Em entrevista ao “Domingo Espetacular”, da Record TV, exibida no último domingo (23), ele relatou que viveu um “surto psicótico” no momento do ato e que não tinha plena consciência de suas ações.

A reviravolta no caso, porém, colocou Dener no centro de uma investigação: após mudar sua versão inicial, ele responderá por falsa comunicação de crime.

A Polícia Civil afirma que, ao contrário do que Dener sustentou no primeiro depoimento, ele não sofreu ameaças, agressões ou ordem de terceiros.

O delegado Márcio Fruet, responsável pelo caso, declarou à reportagem que “o que podemos afirmar com toda a certeza é que ele tinha a total consciência dos atos que praticou”, descartando a tese inicial de coação. O caminhoneiro, no entanto, insiste que estava em condição mental fragilizada no momento da ocorrência.

“Surto psicótico. Eu já não estava mais em mim, não sei o que aconteceu ali, se estavam amarrando, desamarrando… Só fui ver na televisão”, afirmou.

Em outro trecho da entrevista, acrescentou: “Eu estava num surto, não sei por que veio essa ideia louca. Não sei por quê, não sei como explicar”. Ele disse que não lembra de vários momentos críticos do episódio e que não sabe se conseguiria sequer se amarrar sozinho.

Dener contou que decidiu parar o caminhão e usar um galão que carregava consigo para simular uma ameaça explosiva. “Eu parei o caminhão. Tinha o galão dentro do caminhão e achei que ali chamaria a atenção. Decidi, nesse momento, fazer essa parada [o simulacro da bomba]”.

Ele também afirmou ter percebido, em certo momento, que a situação fugiria do controle. “Em algum momento eu falei: ‘vai dar confusão’. Mas não pensava no montante”.

O caminhoneiro também pediu desculpas pela repercussão do caso. “Estou arrependido, muito envergonhado. Mexeu com todo mundo. Família, todos que acreditavam em mim. Prejudiquei muita gente. Não pensei só em mim, pensei na classe. Eu perdi o controle”, disse.

Depois, dirigiu um pedido à categoria e à população: “Só tenho que pedir perdão para os colegas. Por mais que estejam no ódio, eu não trouxe isso para difamar a classe, jamais. Amo o que faço. Quero pedir perdão à população de São Paulo que teve seu transtorno por causa disso”.

Nascido em Ribeirão Pires (SP), Dener Laurito dos Santos trabalhava para a transportadora Sitrex no momento do bloqueio do Rodoanel, em 12 de novembro de 2025, na região de Itapecerica da Serra.

Antes de atuar como caminhoneiro, ele integrou a Polícia Militar de São Paulo de 1994 a 2005. Sua expulsão da corporação foi publicada no Diário Oficial em 2 de março de 2006, sob a acusação de “atos desonrosos” e “transgressão disciplinar de natureza grave”.

Com a mudança de versão e o reconhecimento de que não houve coação externa, o caminhoneiro passa, agora, de suposta vítima a investigado.

O caso segue em apuração, e Dener terá de responder criminalmente pela falsa comunicação que mobilizou policiais, interrompeu o trânsito e gerou alarme público em uma das principais vias da região metropolitana de São Paulo.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.