
A prisão de Alex Leandro Bispo dos Santos, acusado de espancar a esposa instantes antes dela morrer ao cair do 10º andar de um prédio na zona sul de São Paulo, expôs um contrato milionário firmado entre sua empresa, a produtora executiva da cinebiografia de Jair Bolsonaro (PL), e a gestão de Ricardo Nunes (MDB) na Prefeitura de São Paulo.
Documentos obtidos por Demétrio Vechioli, do Metrópoles, revelam que Alex recebeu R$ 12 milhões do Instituto Conhecer Brasil (ICB), presidido por Karina Pereira da Gama, responsável pelo filme “Dark Horse”. A origem do repasse está em um contrato de R$ 108 milhões assinado pela prefeitura de São Paulo para instalar e manter 5 mil pontos de wi-fi gratuito em comunidades de baixa renda.
A assinatura do acordo inclui os nomes de Alex Bispo, de sua esposa, Maria Katiane Gomes da Silva, como testemunha, e de Karina Gama.
Segundo levantamento do The Intercept, o edital que escolheu o ICB tinha ao menos 20 irregularidades apontadas pelo Tribunal de Contas do Município, como critérios genéricos para a seleção de uma ONG para prestar um serviço técnico que poderia ser desempenhado pela Prodam, empresa municipal especializada no setor.
Os valores pagos pelo contrato chamaram atenção: enquanto a Prodam cobra R$ 306 por ponto de wi-fi, o ICB foi contratado por R$ 1.800 pela instalação e mais R$ 1.800 mensais pela manutenção.

A prefeitura ainda aceitou contabilizar 30 de junho de 2024 como data-base de instalação de todos os pontos, mesmo quando relatórios indicavam que muitos só começaram a funcionar meses depois. Com isso, R$ 26 milhões foram pagos por manutenções de redes que sequer existiam.
Nesse contexto, a empresa de Alex, a Favela Conectada, entrou como terceirizada para realizar manutenções, recebendo R$ 712 por ponto por mês. Em apenas um repasse, a empresa recebeu por 12 “mensalidades” referentes a 218 pontos que só funcionaram por pouco mais de dois meses.
No total, foi contratada para instalar 2 mil pontos. O endereço comercial da Favela Conectada fica no mesmo prédio de um escritório cujo aluguel era bancado pelo ICB, inclusive o cheque caução de R$ 18 mil foi incluído na prestação de contas enviada à prefeitura.
Feminicídio
O caso foi exposto após a morte de Maria Katiane. Imagens de segurança mostram o momento em que Alex inicia uma série de agressões contra a esposa no estacionamento seguindo pelo elevador do prédio. Pouco depois, ela cai da janela do 10º andar.
O crime ocorreu na madrugada de 29 de novembro, mas a prisão preventiva só foi decretada no dia 9 de dezembro. A investigação, conduzida pela 89ª Delegacia (Jardim Taboão), trata o caso como feminicídio.
Procurada, a prefeitura de São Paulo afirmou que “considera irresponsável qualquer associação entre as autorizações mencionadas para filmagens” e o programa WiFi Livre SP, defendendo o projeto: “tão fundamental que dá acesso à internet a milhares de famílias vulneráveis na cidade”.
A gestão de Ricardo Nunes disse ainda que “a organização social cumpriu todas as exigências previstas no edital” e que a antecipação de roteadores buscou atender áreas com demanda urgente por conectividade. A nota ressalta que 3,2 mil pontos estão ativos e que 1,8 mil estão previstos para 2026.
⏯️ Mulher espancada abraçou marido antes de ser jogada do 10º andar pic.twitter.com/7YIb4s4fDw
— Metrópoles (@Metropoles) December 10, 2025