Tabata Amaral é a Soninha Francine amanhã. Por José Cássio

Atualizado em 13 de julho de 2019 às 1:03
Imagem: wikimedia commons

O que Tabata Amaral e Soninha Francine têm comum?

Muito a se considerar a trajetória política de ambas.

Como Tabata agora, Soninha despontou como uma opção de renovação. Esperta, vendeu uma imagem de esquerda libertária para eleger-se vereadora pelo PT, em São Paulo, em 2004.

Sua relação com os colegas azedou na primeira reunião de bancada: Soninha estranhou a proposta do partido de fechar questão como oposição ao Executivo.

Não demorou para o então prefeito eleito, José Serra, perceber a insatisfação e trazer a novata para o seu lado.

Deu a Soninha o que ela gostava: conversa fiada, glamour social e um ou dois projetinhos para chamar de seu.

Sem perceber, a então serelepe abandonou seu público, perdeu a originalidade e, muito em função de Serra ser um cemitério de novas lideranças, terminou no descaso. Foi candidata a prefeita, governadora, deputada federal e acabou num mocó ligado ao setor de artesanato arranjado por Geraldo Alckmin no governo do Estado.

Atualmente no Cidadania, usa o mandato de vereadora como meio de vida para bancar as despesas da família, após ter sido despedida e humilhada publicamente por João Doria, no início da gestão, por não dar conta do serviço como secretária municipal de Assistência Social e sempre atrasar nos encontros entre o gestor e seus secretários.

Tabata Amaral não se elegeu vendendo a imagem de moderna como Soninha, mas abusou do discurso ideológico. Nisso teve apoio da mídia tradicional que tentou “vendê-la” como uma nova e consistente opção no campo da esquerda.

Até que, como Soninha, teve de sentar com colegas e tirar posição em relação a um tema importante como a reforma da Previdência.

Não pensou duas vezes em seguir seus instintos: entregou o que esperavam não os eleitores que confiaram nela nas urnas, mas o que seus financiadores exigiam.

Tabata é uma menina especial.

Inteligente, proativa, viveu na periferia até encontrar espaço como bolsista em boas escolas de São Paulo. Batalhou e acabou indo concluir os estudos nos EUA.

Escolhida a dedo por gente de negócios para integrar um grupo de candidatos com o propósito de renovar a política brasileira, aceitou o papel que lhe deram: o de representante de uma esquerda que ela nunca foi.

Como Soninha quando se abraçou com Serra e mudou de turma, agora terá de decidir o que quer da vida: honrar seus compromissos com os eleitores ou seguir a agenda neoliberal como esperam dela seus financiadores.

Não por acaso está fugindo desta pergunta como o diabo da cruz.

Sabe que, se ficar no seu atual partido, o PDT, não será feliz por ter de trabalhar por algo que não acredita.

Se sair, e correr para os braços de um João Doria, por exemplo, corre o risco de se tornar a Soninha de amanhã: útil, mas só até quando isso interessar para a chefia.