Tacla Durán manda recado a Moro: quem tem medo de investigação deve deixar a vida pública. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 7 de junho de 2020 às 13:00
“Tacla Durán, aqui, não”

Rodrigo Tacla Durán mandou um recado hoje a Sergio Moro, que deu entrevista à Folha de S. Paulo. O advogado não citou o nome do ex-juiz, mas o destinatário do tuíte era claro:

“O indivíduo que tem medo de ser investigado, tem que sair da vida pública. “Medo = sentimento de grande inquietação ante um perigo real ou imaginário; susto, pavor, temor, terror” segundo o Mestre Aurélio.”

Na entrevista, Sergio Moro foi questionado sobre a abertura de negociação na Procuradoria Geral da República para delação premiada de Tacla Durán.

Em 2017, o advogado denunciou um amigo de Moro, Carlos Zucolotto Júnior, por supostamente ter tentado extorquir 5 milhões de dólares em troca de vantagens num acordo de delação premiada em Curitiba.

Essa delação não foi fechada, apesar de Tacla Durán ter transferido 612 mil dólares para a conta do advogado Marlus Arns, que foi parceiro de Rosângela Moro em um caso de assistência jurídica da massa falida da GVA, administrada pela família Simão, do Paraná.

Moro é contra a delação de Tacla Durán agora na Procuradoria Geral da República, em Brasília, onde ele poderá dar detalhes da denúncia que fez contra Zucolotto Júnior.

“Isso foi apurado na PGR e arquivado em 2018. De repente, saio no governo, e há a notícia de negociação dessa delação. Se não tem o fato, nenhum elemento de prova, acho extravagante e me causa perplexidade”, disse.

É preciso saber que tipo de apuração foi feita, já que Tacla Durán, o denunciante, nunca foi ouvido. E Moro, em vez de desejar que a acusação seja esclarecida, sempre defendeu Zucolotto.

O natural é que, como juiz, determinasse a apuração quando a denúncia veio à tona, em agosto de 2017. Ele nunca considerou que Zucolotto estivesse usando o nome dele indevidamente?

Ou ele sabia e se viu obrigado a defendê-lo? São questões plausíveis.

Quando a denúncia foi feita, no primeiro momento. Moro ignorou, ao se recusar a comentar a denúncia quando procurado pela Folha.

Talvez imaginasse que o jornal não publicaria a notícia, considerando que, na época, ainda tinha a imagem de herói.

Quando a matéria saiu, mobilizou a assessoria de imprensa da Justiça Federal numa manhã de domingo, para divulgar nota, em que atacou Tacla Durán (mesmo sem tê-lo ouvido uma única vez) e defendeu Zucolotto, com o mesmo argumento que apresenta na Folha: seu amigo não é criminalista.

Na entrevista à Folha, Moro comentou:

Durante a Lava Jato tivemos vários casos que geraram animosidade, e em particular existe esse indivíduo, Tacla Durán, acusado de lavagem de dinheiro. Decretei a prisão dele e, como álibi para se defender, criou essa história de que teriam tentado criar uma delação através de um amigo meu. Isso é uma fantasia, não teve nenhum contato desse meu amigo. E ele sugere alguma vantagem financeira a mim.

Querem colocar minha esposa no meio dessa história, como se beneficiou? O Zucolloto não é advogado criminal, nunca tratou de colaboração premiada. Não tem nenhum pagamento do Tacla para minha esposa ou para mim. Depois, ele contratou um outro advogado, Marlos Arns, e inventam uma história de que minha esposa seria sócia dele. Nunca foi, nunca teve relação comercial, financeira. É uma história totalmente estapafúrdia.

Rosângela foi advogada com Marlus Arns no caso da GVA, como está registrado acima, e Zucolotto figurou como advogado, juntamente com a esposa de Moro, em um processo criminal movido contra o advogado Roberto Bertholdo, acusado de feito escuta clandestina do ex-juiz.

Em pelo menos um caso, o de Moro, Zucolotto foi crimilista.

Mas, mesmo considerando que Zucolotto não tenha experiência na área criminal, não foi como advogado que ele conversou com Tacla Durán, segundo este mesmo contou. Zucolotto tinha representado Tacla Durán em uma ação de interesse deste em Curitiba.

A abordagem se deu em razão de já se conhecerem. Além disso, Zucolotto não é apenas advogado. É lobista, e de carteirinha, já que, pouco antes de Moro assumir o Ministério da Justiça, pediu a inscrição na Associação Brasileira de Relações Governamentais.

Conforme a denúncia de Tacla Durán, depois que Zucolotto fez a abordagem, entrou em cena Marlus Arns, este sim formalmente constituído em acordos de delação premiada na Vara Federal conduzida por Moro em Curitiba.

Enfim, o história contada por Tacla Durán é verossímil. Em outras palavras, dá para ver fumaça. Tem que procurar se tem fogo. Deixa o Tacla Durán falar, em delação. Se não tem nada, como Moro diz, por que ser contra?

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Em dezembro de 2017, eu procurei Carlos Zucolotto Júnior em seu escritório, em Curitiba. Ele não quis falar e dois advogados do seu escritório me seguiram até o carro, e fizeram ameaça de me processar. Deixei meu cartão com ele, e reforcei que gostaria de entrevistar Zucolotto. Até hoje, aguardo resposta. Veja o vídeo: