
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que foram aliados no passado, agora estão em um processo de distanciamento político, com foco no domínio da direita e na candidatura de oposição ao presidente Lula (PT) em 2026.
A mais recente discordância entre os dois aconteceu após o segundo turno das eleições para prefeito de Goiânia, realizado neste domingo (27), mas não é a primeira vez que os líderes de direita se desentendem.
A primeira ruptura ocorreu em 2020, no início da pandemia, quando Caiado criticou a postura de Bolsonaro sobre o combate à crise sanitária. Mesmo tendo apoiado Bolsonaro nas eleições de 2018, Caiado afirmou que o ex-presidente estava “lavando as mãos” ao rejeitar medidas de isolamento social.
“Fui aliado de primeira hora, durante todo tempo, mas não posso admitir que venha agora um presidente da República lavar as mãos e responsabilizar outras pessoas por um colapso econômico ou pela falência de empregos que amanhã venha a acontecer. Não faz parte da postura de um governante”, declarou Caiado na época, em um pronunciamento no Palácio das Esmeraldas, sede do governo goiano.

As críticas de Caiado a Bolsonaro se intensificaram ao longo da pandemia. Em dezembro de 2020, Caiado sugeriu que o ex-presidente estava tentando “confiscar” vacinas contra a Covid-19 em fase final de testes, o que gerou uma resposta oficial do Ministério da Saúde, negando essa alegação.
Na ocasião, Caiado declarou: “Nenhum Estado vai fazer politicagem e escolher quem vai viver ou morrer de Covid-19″, manifestando-se pelo X (antigo Twitter).
Apesar das divergências, Caiado e Bolsonaro se reaproximaram durante as eleições presidenciais de 2022, com Caiado apoiando Bolsonaro no segundo turno contra Lula. No entanto, após a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que tornou Bolsonaro inelegível, Caiado começou a buscar apoio para se consolidar como candidato da direita em 2026. Um exemplo disso foi sua presença em um ato público de Bolsonaro na Avenida Paulista, onde o ex-presidente se defendia de acusações de planejar um golpe.
Disputa em Goiânia
A recente disputa por apoio em Goiânia aprofundou a divisão entre eles. Bolsonaro apoiou o candidato Fred Rodrigues, oponente do aliado de Caiado, Sandro Mabel. Caiado classificou a ação como “deselegante” e “desrespeitosa,” e criticou o ex-capitão por não discutir o apoio antes.
“Eles nem sequer sentaram para conversar. Então, o que ocorreu em Goiás foi uma falta de habilidade política. Faltou humildade e sobrou deselegância da parte deles em achar que bastava lançar um número, independentemente do candidato, que ganharia as eleições”, comentou Caiado ao Estadão.
O governador também afirmou que a eleição municipal de 2024 mostrou que o Brasil está cansado da forma como o ex-presidente e seus aliados fazem política. “Ninguém aguenta mais, é uma conversa chata, cansativa, enjoada”, disse.
Bolsonaro reagiu compartilhando um vídeo de 2023 no qual Caiado o elogia, quando o ex-presidente recebeu o título de cidadão goiano.
“O governador de Goiás tem criticado duramente Bolsonaro e Gustavo Gayer (deputado federal do PL goiano) por ocasião das eleições municipais. Agora vejam os elogios de Caiado a Bolsonaro em 2023, dia em que o JB tornou-se cidadão goiano”, publicou Bolsonaro.
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Ainda na terça-feira, o ex-mandatário afirmou que Caiado costuma tratar como inimigos aqueles que o desagradam, mencionando as várias vezes em que se afastaram durante sua presidência.
“O Caiado é uma pessoa que, se você o desagrada, ele vira teu inimigo. Em quatro momentos, ele rompeu comigo enquanto na Presidência da República”, declarou Bolsonaro, recordando os desencontros frequentes na relação entre ambos.