
O início de 2026 coloca o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), no centro de uma disputa política dupla. De um lado, partidos do Centrão cobram mais espaço no governo estadual e ameaçam romper alianças. De outro, setores do bolsonarismo pressionam para que o governador se engaje de forma mais clara na campanha presidencial do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). A combinação dessas cobranças aumenta a tensão no entorno do Palácio dos Bandeirantes e influencia diretamente o cálculo eleitoral de Tarcísio para o próximo ano.
Desde que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) anunciou que apoiará o filho mais velho na disputa pelo Planalto, aliados avaliam que cresce a probabilidade de Tarcísio buscar a reeleição em São Paulo. Ainda assim, segundo o Metrópoles, o governador segue visto como plano B do bolsonarismo, caso haja alguma reviravolta no cenário presidencial, algo considerado recorrente no histórico político do ex-presidente.
No campo do Centrão, o principal foco de pressão vem do Progressistas (PP). A sigla tem reclamado de dificuldades de diálogo com o governo estadual e de um suposto distanciamento de Tarcísio em relação a parlamentares e prefeitos do partido. O clima se agravou após a saída de Guilherme Derrite (PP) da Secretaria da Segurança Pública para disputar o Senado. O cargo passou a ser ocupado por Osvaldo Nico Gonçalves, delegado sem filiação partidária, o que foi interpretado pela sigla como perda de espaço político.
Integrantes do partido avaliam que o apoio de Tarcísio à candidatura de Derrite ao Senado tem sido insuficiente e chegaram a discutir a possibilidade de apoiar outro nome para o governo paulista em 2026. Nesse cenário, passou a circular internamente o nome de Filipe Sabará, ex-secretário de Desenvolvimento de Tarcísio e atualmente ligado à pré-campanha de Flávio Bolsonaro.
Ao Metrópoles, Sabará afirmou que sua prioridade é o projeto presidencial. “Entretanto, se por algum motivo, ele [Tarcísio], não entrar de cabeça na campanha do Flávio, e ele precisar de mim em São Paulo, estou preparado para fazê-lo e, portanto, me sinto lisonjeado pelo convite do PP”, declarou.

Do lado do bolsonarismo, a cobrança é por um apoio mais explícito. Parlamentares ligados ao grupo mais fiel ao ex-presidente avaliam que o governador tem adotado apenas um endosso protocolar a Flávio. Nos bastidores, Tarcísio afirma que não pretende, por ora, se engajar diretamente na campanha presidencial, apesar de já ter manifestado apoio público ao senador.
A eventual ausência de um palanque robusto em São Paulo preocupa aliados de Flávio Bolsonaro, já que o estado concentra o maior eleitorado do país. Caso Tarcísio mantenha distância, o governador pode enfrentar resistência interna durante a própria campanha à reeleição. Mesmo assim, políticos do PL reforçam que a lealdade ao ex-presidente será decisiva.
“Eu acho quase impossível isso acontecer [o rompimento com Tarcísio], mas estaremos sempre ao lado daqueles apoiados por Jair Bolsonaro”, disse um parlamentar da sigla.
Aliados de Tarcísio consideram previsível a pressão do bolsonarismo, mas classificam a postura do PP como excessiva. Internamente, o movimento é visto como tentativa de ampliar espaço político, apesar de o partido contar hoje com apenas dois deputados estaduais, ainda que tenha 54 prefeitos no estado.
A expectativa no entorno do governador é de que ele faça algum gesto de acomodação política após retornar de viagem com a família aos Estados Unidos, buscando reduzir tensões e reorganizar sua base para 2026.