Tarcísio recua da pressão ao STF por Bolsonaro e agora finge que nada aconteceu

Atualizado em 12 de julho de 2025 às 15:44
Tarcísio de Freitas e Jair Bolsonaro se abraçando e rindo
Tarcísio de Freitas e Jair Bolsonaro – Reprodução

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tentou interceder junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) para viabilizar uma viagem de Jair Bolsonaro aos Estados Unidos com o objetivo de negociar diretamente com Donald Trump o fim da tarifa de 50% imposta aos produtos brasileiros. A investida, revelada pela colunista Mônica Bergamo, foi considerada inusitada e até constrangedora por ministros da Corte, que classificaram a ação como uma tentativa de interferência política em um processo judicial em curso.

Diante da repercussão negativa, Tarcísio tentou minimizar o episódio neste sábado (12), em Cerquilho (SP), afirmando que não assinou nenhuma petição e chamando a articulação de “bobagem”. A fala contradiz informações de bastidores que confirmam sua atuação ativa nos bastidores da crise, que inclui conversas com ministros do STF, diplomatas norte-americanos e o próprio Bolsonaro.

A crise tarifária expôs o dilema político de Tarcísio: buscar protagonismo como possível negociador internacional ou manter sua lealdade ao grupo bolsonarista. Ao ser questionado sobre a exigência de anistia aos envolvidos nos atos golpistas — como defendido por Eduardo Bolsonaro e aliados — o governador desconversou, chamando o pedido de “ponto de vista”. Na prática, a resposta omite sua posição sobre a legalidade ou não da exigência feita pelos filhos do ex-presidente.

Montagem de duas fotos de Tarcísio de Freitas com boné do Trump
Tarcísio de Freitas, governador de SP – Reprodução/Redes Sociais

No entanto, a tentativa de Tarcísio de se colocar como interlocutor do governo brasileiro com o de Trump foi mal recebida dentro do próprio bolsonarismo. Paulo Figueiredo, ex-apresentador e defensor das sanções contra o governo Lula, criticou Tarcísio dizendo que ele “atrapalha sem nem saber”. Bolsonaro, por sua vez, já deixou claro que o foco não é o impacto da tarifa sobre o setor produtivo, mas sim a anistia aos réus por tentativa de golpe, ele próprio incluído.

O isolamento de Tarcísio na crise também revela um movimento estratégico do clã Bolsonaro para impedir que o governador ganhe força como figura autônoma. Internamente, aliados do ex-presidente enxergam a atuação de Tarcísio como um “voo solo” arriscado, que pode enfraquecer a narrativa do grupo ao negociar sem exigir contrapartidas como a anistia ampla, geral e irrestrita.

Enquanto isso, o Palácio do Planalto explora a imagem de Tarcísio com boné de Trump e o associa ao desgaste político da tarifa, argumentando que o bolsonarismo estaria mais preocupado em salvar Bolsonaro das acusações no STF do que em proteger os produtores brasileiros. O silêncio da JBS e da Marfrig até o momento fortalece a tese de que o prejuízo é real — e que o governo paulista atua de forma descoordenada e sem respaldo institucional.