Tarifa de Trump ao Brasil pode fortalecer Lula e isolar bolsonarismo; entenda

Atualizado em 10 de julho de 2025 às 9:11

A decisão de Donald Trump em elevar para 50% as tarifas sobre produtos brasileiros, com justificativa de apoio a Jair Bolsonaro, pode ter efeito oposto ao pretendido e beneficiar o presidente Lula (PT). Com informações da BBC.

Analistas apontam que interferências estrangeiras em questões internas tendem a gerar reações nacionalistas, reforçando a imagem do chefe de Estado brasileiro como defensor da soberania nacional. “Mesmo críticos de Lula podem ver a atitude de Trump como um ataque ao país”, escreveu o pesquisador Oliver Stuenkel nas redes sociais.

Governo reage

O governo brasileiro reagiu imediatamente à medida. Lula convocou uma reunião de emergência com ministros e publicou nota afirmando que o processo contra os responsáveis pelo 8 de janeiro cabe apenas à Justiça brasileira.

O presidente também alertou que “qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica”, aprovada em abril.

Efeito Trump

O cientista político Rafael Cortez avalia que, embora a polarização política brasileira reduza o impacto imediato da medida sobre o eleitorado, o episódio pode influenciar a base de eleitores de centro em uma disputa apertada. “Não é uma revolução, mas pode ser suficiente para tornar Lula favorito em 2026”, afirma.

Ele cita casos semelhantes em países como Canadá, Austrália e México, onde o chamado “efeito Trump” ajudou candidatos opositores ao republicano.

Necessidade de articulação

Já Creomar de Souza, da consultoria Dharma Politics, diz que Lula recebeu uma oportunidade política valiosa com a decisão americana, mas alerta para a necessidade de articulação dentro do governo.

“A pauta do nacionalismo está na mão de Lula, mas é preciso ver se o governo terá capacidade de construir uma resposta coesa e estratégica”, pontuou.

Reação bolsonarista

A reação da base bolsonarista foi imediata. Flávio Bolsonaro culpou Lula pelo agravamento das relações com os EUA, enquanto parlamentares do PT, como Humberto Costa, acusaram os bolsonaristas de torcer contra o Brasil. Eduardo Bolsonaro, que está nos Estados Unidos desde março, admitiu articulações com autoridades ligadas a Trump, defendendo sanções contra o ministro Alexandre de Moraes e uma “reação coordenada” às ações do STF.

Eduardo Bolsonaro, deputado federal licenciado – Foto: Reprodução

Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de SP, também comentou o caso e culpou o governo Lula. Suas falas, mais tarde, foram detonadas pelo deputado Lindbergh Faria (PT). Segundo o líder do PT na Câmara, Tarcísio tenta “posar de bom moço” após “insuflar a crise”, mas sua “máscara está caindo”.

“O governador Tarcísio tenta posar de bom moço depois que insuflou a crise. Há dois dias fez um X apoiando Trump na defesa de Bolsonaro contra o STF. Agora, depois de seis horas em silêncio, tenta jogar a culpa em Lula e não diz uma palavra sequer contra a posição do Trump. Nenhuma defesa do Brasil. Opta pelo Boné do Trump em vez da camisa do Brasil”, escreveu o parlamentar no X.