Tarifaço de Trump afeta mais da metade das exportações de cinco setores do Brasil

Atualizado em 22 de julho de 2025 às 11:46
Terminal de Contêineres (Tecon), no Porto de Santos. Foto: Reprodução

Mais da metade das exportações de cinco setores estratégicos do Brasil será diretamente impactadas pela tarifa de 50% anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Juntas, essas indústrias movimentaram US$ 4 bilhões em 2023, com os EUA como principal destino.

A sobretaxa, parte da nova ofensiva comercial americana, ameaça a sobrevivência de segmentos inteiros fortemente dependentes do mercado norte-americano.

Um levantamento da Folha de S.Paulo, com base em dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior) e do Mdic, aponta que 30 setores brasileiros destinam ao menos 25% de suas exportações aos EUA.

Ao todo, foram US$ 20,3 bilhões exportados por 9.500 empresas brasileiras no último ano, segundo a Amcham Brasil. Entre os segmentos mais vulneráveis, lideram materiais de construção, aeronaves e peças, armas e munições, pescados e peles com pelos.

O setor de materiais de construção lidera em exposição: 65,4% das exportações vão para os EUA, com destaque para pedras de cantaria, mármores e granitos. Só o Espírito Santo responde por 84,4% desse tipo de exportação.

Já a indústria aeronáutica, puxada pela Embraer, enviou US$ 2,6 bilhões em produtos para os americanos, o equivalente a 61,7% das exportações do setor. São Paulo concentra 91% dessas remessas.

Trump anuncia tarifaço: EUA vão cobrar 10% em cima de produtos brasileiros - Brasil de Fato

Armas e munições, com destaque para a Taurus, também serão duramente afetadas: 61,3% das exportações vão aos EUA, somando US$ 323,8 milhões. O Rio Grande do Sul lidera o envio desses produtos, com 52,5% do total embarcado.

Já o segmento de pescados destina 60,8% de sua produção ao mercado americano, com o Ceará como estado mais afetado — 24% das exportações de crustáceos e moluscos vêm do estado.

As peles com pelos fecham o grupo dos cinco setores mais impactados, com 54,5% das exportações destinadas aos EUA em 2023. O Rio Grande do Sul responde por 99% dessas vendas. Quando se observa o peso das exportações aos EUA por estado, o Ceará aparece como o mais dependente: 44,9% de tudo que exporta tem os EUA como destino. Na sequência, estão Espírito Santo (28,6%), Paraíba (21,6%), São Paulo (19%) e Sergipe (17,1%).

Na contramão do comércio bilateral, o Brasil é o principal comprador mundial de alguns produtos dos EUA. O país responde por 88% das exportações americanas de fósforo, 81,8% de compostos químicos derivados de metano, etano e propano, e 81,5% da pasta de cacau enviada pelos EUA a outros países, segundo dados da United Nations Comtrade.