Tarifaço de Trump contra Brasil expõe guerra ideológica e interferência na eleição de 2026

Atualizado em 13 de julho de 2025 às 17:01
Donald Trump

Meses antes da eleição de 2024 nos EUA, o Itamaraty já alertava que um eventual retorno de Donald Trump significaria pressão contra governos progressistas, alinhamento com as big techs e oposição direta à influência chinesa na América Latina. O relatório produzido após visita diplomática a Washington antecipava os riscos. Em 2025, a previsão se concretizou: o tarifaço de Trump — com taxa de 50% ao Brasil — escancarou motivações políticas e ideológicas, vinculadas ao processo de Jair Bolsonaro e à atuação brasileira no Brics.

Desde sua vitória, Trump tem evitado qualquer gesto de aproximação com o governo Lula. Ignorou cartas do chanceler Mauro Vieira, esvaziou a embaixada dos EUA no Brasil e afirmou que “não precisamos deles, eles precisam de nós”. O primeiro confronto entre os países envolveu deportações em massa de brasileiros, o que levou o Planalto a reagir com diplomacia preventiva para evitar um conflito aberto.

A tensão cresceu quando Eduardo Bolsonaro passou a operar diretamente nos EUA, com apoio de Steve Bannon, para pressionar a Casa Branca a sancionar autoridades brasileiras, sobretudo o ministro Alexandre de Moraes. O bolsonarismo buscou apoio no Congresso americano e tentou cooptar a Comissão Interamericana de Direitos Humanos. A ala ideológica de Trump aliou-se ao lobby das big techs contra a regulação digital em curso no Brasil.

O ponto de inflexão veio em fevereiro, quando o Congresso dos EUA deu andamento a projetos que ameaçam estrangeiros acusados de “censura”. O recado, endossado pela embaixada americana no Brasil, foi direto: restringir empresas de tecnologia e punir plataformas como a Rumble ou a X seria interpretado como violação da liberdade de expressão, mesmo fora do território americano.

Foto da 17ª Cúpula do Brics, no Rio
Foto da 17ª Cúpula do Brics, no Rio – Isabela Castilho/BRICS Brasil

A escalada se intensificou após a cúpula do Brics no Rio, que incluiu temas sensíveis aos EUA, como regulação das plataformas e apoio ao Irã. Trump declarou guerra comercial aberta: países alinhados ao Brics pagariam tarifas adicionais. O Brasil foi o mais penalizado. A Casa Branca vinculou a punição diretamente ao julgamento de Bolsonaro no STF e ao que chamou de perseguição política e ataques às big techs. O governo Lula respondeu convocando o diplomata americano e denunciando interferência inaceitável.

O tarifaço, portanto, é apenas parte de um plano mais amplo. A Casa Branca de Trump atua para minar o governo Lula, interferir no Judiciário brasileiro e favorecer um retorno da extrema-direita ao poder em 2026. A ação envolve o bolsonarismo, o lobby das plataformas digitais e a disputa pela hegemonia global contra a China. Para os diplomatas brasileiros, trata-se da maior crise bilateral com os EUA em décadas. As informações são de Jamil Chade, do UOL.