Tarifaço de Trump já afeta setor de pescados com quebra de contratos; entenda

Atualizado em 10 de julho de 2025 às 18:21
Empresa de exportação de peixes. Foto: reprodução

O anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a taxação de 50% sobre produtos brasileiros já começou a causar estragos no setor pesqueiro nacional. De acordo com Jairo Gund, diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (Abipesca), algumas empresas já cancelaram contratos e o envio de contêineres para os Estados Unidos.

“De ontem para hoje, quem trabalha com exportação não dormiu. Nosso segmento ficou de pernas para o ar de uma hora para outra”, afirmou Gund. A medida, que entra em vigor em 1º de agosto, ameaça um mercado que representa 80% das exportações brasileiras de pescados, gerando uma receita de US$ 244 milhões por ano.

Juliano Kubitza, diretor da Fider Pescados, uma das maiores exportadoras de tilápia do país, confirmou que o setor ainda está tentando assimilar o golpe. “Ainda estou digerindo a má notícia”, disse.

A empresa, que tem o comércio exterior como metade de seu faturamento, vinha expandindo suas vendas para os EUA, tanto com filés frescos transportados por via aérea quanto com planos para exportação de congelados por navios.

Trump exibindo decreto sobre tarifaço global. Foto: Saul Loeb/AFP

O problema, segundo Gund, é o tempo de transporte. Contêineres com pescados congelados levam entre 20 e 40 dias para chegar aos EUA, e as empresas temem que os produtos ainda estejam em trânsito quando a nova tarifa entrar em vigor. Já os embarques de peixes frescos devem ser interrompidos nos próximos 20 dias para evitar prejuízos.

Principais produtos afetados

Entre os pescados mais exportados para os EUA estão:
Lagosta (Ceará e Nordeste) – quase 100% da produção vai para exportação
Tilápia (Paraná, São Paulo e Minas Gerais)
Pargo (Pará) – quase totalmente exportado
Corvina (Sul e Sudeste) – maior volume, com 10 mil toneladas enviadas
Atum (Rio Grande do Norte) – dependente do mercado americano

“Essa taxação vai tirar o pescado brasileiro do mercado americano. Não teremos como escoar nossa produção, e muitas indústrias vão fechar, deixando de comprar de pescadores artesanais e piscicultores familiares”, alertou Eduardo Lobo Naslavsky, presidente da Abipesca.

Diferentemente de outros setores de proteína animal, a pesca brasileira é majoritariamente composta por pequenas agroindústrias que dependem de comunidades tradicionais e pescadores familiares. O impacto da taxação, portanto, pode ser devastador para essas cadeias produtivas locais.

Diante da crise, a Abipesca cobrou do governo brasileiro maior agilidade na abertura do mercado europeu, fechado desde 2017. “A morosidade dessa tratativa demonstra a importância de reduzir a dependência de mercados específicos”, destacou a entidade em nota.

Gund ressaltou que as negociações com a União Europeia esbarram no acordo Mercosul-UE e pediu cautela ao governo: “É preciso uma abordagem diplomática para evitar confrontos que agravem a situação e causem desemprego em massa”.