Tarifaço de Trump prejudica indústria nacional das armas

Atualizado em 13 de julho de 2025 às 8:57
Donald Trump e armas à venda. Fotomontagem: Creative Commons/Getty images

Na quarta-feira (9), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o Brasil responderá à nova tarifa de 50% anunciada pelos Estados Unidos sobre produtos nacionais, utilizando a Lei da Reciprocidade Econômica. A medida norte-americana foi anunciada pelo presidente Donald Trump e impacta diretamente setores estratégicos da indústria brasileira, especialmente o de armas e munições.

A taxação foi recebida como um gesto unilateral e político por parte do governo norte-americano, que tem adotado posturas protecionistas desde o início da gestão Trump. Lula declarou que qualquer elevação tarifária será rebatida com base na legislação aprovada em abril, que autoriza o Brasil a retaliar países que adotem sanções comerciais injustificadas.

Segundo levantamento do portal Metrópoles, com base em dados do Comex Stat, a indústria brasileira de armas será a mais afetada. Em 2024, os Estados Unidos absorveram 61,3% das exportações brasileiras do setor, o equivalente a US$ 323 milhões dos US$ 528 milhões exportados pelo Brasil.

Por outro lado, o Brasil importou apenas US$ 17,6 milhões em armas e munições dos Estados Unidos neste mesmo período. Ou seja, os americanos compram 18 vezes mais produtos desse segmento do que vendem ao Brasil. A balança comercial é fortemente favorável ao Brasil nessa categoria.

Vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comercio e Serviços, Geraldo Alckmin. FOTO: Júlio César Silva/MDIC

O segundo maior destino das exportações brasileiras de armamentos em 2024 foram os Emirados Árabes Unidos, com US$ 27 milhões — valor 11 vezes inferior ao montante enviado ao mercado norte-americano. A disparidade evidencia o peso dos EUA nas exportações brasileiras do setor.

A nova taxação anunciada por Trump ainda não teve detalhes técnicos divulgados pela Casa Branca, segundo fontes do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Por isso, integrantes da equipe do vice-presidente Geraldo Alckmin avaliam que é prematuro estimar com precisão os impactos imediatos.

No plano político, a medida norte-americana foi acompanhada de uma defesa explícita de Donald Trump ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), investigado pelo Supremo Tribunal Federal por tentativa de golpe. A gestão Lula busca vincular o aumento tarifário ao apoio de Trump a Bolsonaro, apontando o ex-mandatário brasileiro como corresponsável pelo desgaste nas relações diplomáticas.

Desde o início de seu mandato, Trump tem ampliado barreiras comerciais a diversos países, com foco nos integrantes do Brics. A nova medida contra o Brasil se insere nesse contexto e reacende tensões comerciais em um momento de forte polarização política internacional.

Lindiane Seno
Lindiane é advogada e moderadora das lives no DCM.