
As medidas protecionistas anunciadas pelo governo de Donald Trump, nos Estados Unidos, apelidadas de “tarifaço”, devem ter um impacto direto no bolso das famílias estadunidenses. Segundo estudo do Budget Lab da Universidade Yale, cada domicílio nos EUA perderá em média US$ 3.800 este ano, valor equivalente a mais da metade da renda mensal média no país.
O cálculo considera o aumento de 2,3% nos preços de produtos importados e bens domésticos que utilizam insumos tarifados.
O setor têxtil aparece como um dos mais afetados, com preços podendo subir até 17% devido às altas tarifas sobre importações de países como Vietnã, Bangladesh e Tailândia.
As medidas, anunciadas como “Dia da Libertação” pelo presidente Trump, elevaram a tarifa média efetiva dos Estados Unidos para 22,5%, patamar não visto desde 1909. “O que foi chamado de ‘Dia da Libertação’ na verdade acorrentará a população a preços mais elevados”, criticou Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados. Já a revista britânica The Economist, em editorial, ironizou a data como “Dia da Ruína”.
Os efeitos macroeconômicos são igualmente preocupantes. O estudo de Yale projeta redução de 0,5 ponto percentual no PIB estadunidense apenas em 2025, com queda acumulada de 0,9 ponto quando consideradas todas as medidas protecionistas desde o início do governo Trump. A longo prazo, a economia pode operar 0,6 ponto abaixo de seu potencial, representando perda de US$ 180 bilhões só neste ano.
O Instituto de Finanças Internacionais (IIF) analisa que as tarifas sobre setores estratégicos como semicondutores e farmacêuticos (entre 10% e 25%) buscam transformar permanentemente as cadeias de suprimentos.
“O custo de acesso ao mercado dos Estados Unidos mudou fundamentalmente”, afirma relatório da instituição que reúne mais de 400 bancos globais.
Especialistas apontam que a estratégia trumpista se baseia em três eixos: transferir o foco do consumidor para o trabalhador industrial, compensar perdas com isenções fiscais para 85% da população e estimular a economia via corte de gastos públicos. No entanto, Armando Castelar, pesquisador da FGV, alerta para o risco de estagflação, com inflação alta e crescimento econômico baixo.

Enquanto isso, as retaliações internacionais se intensificam. A China já respondeu com tarifa de 34% sobre produtos estadunidenses, e outros países devem seguir o mesmo caminho.
José Júlio Senna, ex-diretor do Banco Central, questiona a viabilidade do projeto de reindustrialização via tarifas: “A perda de empregos industriais é fenômeno natural em economias desenvolvidas que passam a demandar mais serviços”.
As famílias estadunidenses sofrem um duplo impacto: além do aumento nos preços de consumo, enfrentam perdas em seus investimentos, já que as tarifas têm pressionado o mercado acionário, onde boa parte da poupança da classe média está aplicada. O déficit comercial, que se mantém estável em torno de 3% do PIB, continua sendo um desafio estrutural para a economia dos Estados Unidos.
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