“Tarifas se negociam em Brasília”, diz a diplomacia dos EUA a empresários brasileiros

Atualizado em 3 de setembro de 2025 às 21:39
Christopher Landau, vice-secretário de Estado dos EUA, olhando para cima com expressão pensativa
Christopher Landau, vice-secretário de Estado dos EUA – Divulgação

O vice-secretário de Estado dos Estados Unidos, Christopher Landau, recebeu nesta terça-feira (2) em Washington o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, o ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, e Abrão Neto, CEO da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos (Amcham).

O encontro, realizado na sede do Departamento de Estado, teve como pauta principal as tarifas de 50% sobre produtos brasileiros em vigor desde 6 de julho. Segundo fontes da administração Trump, os americanos afirmaram que a medida é política e que as pressões deveriam ser feitas em Brasília, e não em Washington.

A CNI confirmou a realização da reunião, que não constava na agenda oficial dos empresários. De acordo com participantes, o encontro foi mantido em sigilo para evitar interferências políticas, já que o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) teria atuado para impedir negociações que pudessem reduzir o impasse bilateral.

No fim do dia, Ricardo Alban declarou que não vê possibilidade de redução da tarifa no curto prazo, mas citou a chance de ampliar a lista de exceções, que já contempla cerca de 700 produtos, como aeronaves e sucos de laranja.

Os empresários relataram às autoridades americanas prejuízos decorrentes da medida, incluindo impactos em cadeias produtivas e risco de desemprego. Receberam a resposta de que a taxa é composta por 10% de caráter recíproco, aplicados a diversos países, e 40% de natureza política, a serem negociados pelo governo brasileiro.

Jair Bolsonaro (PL) e Donald Trump sorrindo para foto e fazendo sinal de joia, ambos em pé, lado a lado
Jair Bolsonaro (PL) e Donald Trump – Reprodução

A decisão de Donald Trump de impor a sobretaxa foi anunciada em 9 de julho, em carta na qual vinculou a medida ao processo judicial contra Jair Bolsonaro (PL) e às decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) envolvendo big techs.

Segundo Alban, tanto os diplomatas americanos quanto o senador republicano Ted Cruz reforçaram a motivação política da medida. Ele relatou que o tema das big techs foi citado diversas vezes na conversa com Landau.

A diplomacia americana recomendou aos empresários que intensifiquem a atuação em Brasília, e não apenas em Washington, para tentar desbloquear as negociações. O governo Lula já afirmou que não aceitará condicionar qualquer acordo ao julgamento de Bolsonaro, classificando a pressão como interferência em assuntos internos.

Ainda em Washington, a delegação de mais de cem empresários contratou o lobista Brian Ballard, conhecido por sua proximidade com Trump, para atuar em defesa dos interesses brasileiros. Ballard afirmou que o desafio é convencer Trump de que os empresários não são inimigos, mas sim vítimas de uma disputa política relacionada ao processo contra Jair Bolsonaro.

Ele lembrou que o próprio Trump enfrenta processos nos Estados Unidos pelo ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021, o que torna a questão pessoal para o presidente republicano.

Além do impasse tarifário, fontes da administração Trump confirmaram que bancos brasileiros receberam uma carta do Tesouro dos EUA questionando providências relacionadas às contas do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso Bolsonaro no STF.

O magistrado foi incluído pela Casa Branca na lista de sanções da Lei Global Magnitsky. Segundo os americanos, instituições financeiras brasileiras poderão sofrer punições caso não cumpram as exigências previstas pela legislação.

Jessica Alexandrino
Jessica Alexandrino é jornalista e trabalha no DCM desde 2022. Sempre gostou muito de escrever e decidiu que profissão queria seguir antes mesmo de ingressar no Ensino Médio. Tem passagens por outros portais de notícias e emissoras de TV, mas nas horas vagas gosta de viajar, assistir novelas e jogar tênis.