Taurus, alinhada ao bolsonarismo, questiona importação de fuzis dos EUA pela Marinha

Atualizado em 21 de dezembro de 2025 às 16:03
Soldado americano com fuzil. Foto: Reprodução/Depto Defesa EUA

A Taurus, maior fabricante de armas leves e táticas da América Latina, contestou a decisão da Marinha do Brasil de adquirir armamentos de uma empresa estrangeira. A manifestação ocorreu após a compra de fuzis norte-americanos realizada em novembro deste ano.

A Marinha adquiriu 140 fuzis Colt M4 Carbine, calibre 5,56 mm, da Colt’s Manufacturing Company LLC, dos Estados Unidos. O contrato, firmado por dispensa de licitação, teve valor aproximado de R$ 1,3 milhão e não envolveu concorrência entre fornecedores.

Em nota encaminhada à coluna de Paulo Capelli, do Metrópoles, o presidente da Taurus, Salesio Nuhs, afirmou que existe produção nacional de armamento da mesma classe. Segundo ele, a empresa fabrica no Brasil, desde 2017, o fuzil T4 Taurus, desenvolvido com tecnologia própria.

Fuzil calibre T4, Modelo 300 AAC Blackout, da Taurus. Foto: Divulgação/Taurus

De acordo com a companhia, o modelo é utilizado por forças de segurança nacionais e já foi exportado para diversos países. Ao longo dos últimos anos, cerca de 100 mil unidades foram produzidas no complexo industrial da empresa em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul.

A Taurus sustenta que a importação de armamentos gera impactos negativos para a indústria brasileira de defesa. Na avaliação da empresa, a medida compromete a competitividade do setor e enfraquece a base industrial nacional.

O presidente da fabricante também citou o cenário comercial internacional como fator relevante. Segundo a empresa, os Estados Unidos aplicam tarifas de aproximadamente 50% sobre produtos brasileiros exportados por companhias do segmento de armamentos.

A dispensa de licitação foi fundamentada pela Marinha na Lei nº 14.133/2021. A norma autoriza a contratação direta quando há necessidade de preservar a padronização logística das Forças Armadas nos meios navais, aéreos e terrestres.

Criada em 1939, a Taurus produz pistolas, revólveres, armas longas, equipamentos táticos e acessórios de proteção. A empresa mantém operações industriais nos Estados Unidos e exporta seus produtos para mais de 40 países.

Relações com o bolsonarismo 

Durante o governo Jair Bolsonaro, a Taurus manteve relação próxima com a agenda armamentista do Planalto, sendo diretamente beneficiada por decretos que flexibilizaram regras para posse e porte de armas, ampliaram o mercado interno e favoreceram o setor de defesa. Executivos da empresa participaram de eventos oficiais, tiveram interlocução frequente com ministérios e defenderam publicamente as mudanças regulatórias, alinhadas ao discurso bolsonarista de estímulo à indústria de armas e ao acesso civil a armamentos, embora a companhia nunca tenha formalizado apoio partidário ou eleitoral ao ex-presidente.

Lindiane Seno
Lindiane é advogada, redatora e produtora de lives no DCM TV.