Taxa sobre gorjetas, piada sobre metanol e tarifaço fazem popularidade de Tarcísio despencar na web

Atualizado em 17 de outubro de 2025 às 7:38
Tarcísio de Freitas, governador de SP. Foto: Pablo Jacob/Governo do Estado de SP

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), continua sendo alvo de críticas nas redes sociais, mesmo após reduzir sua exposição pública e adotar um tom mais administrativo. Um levantamento da consultoria Bites, divulgado pelo jornal O Globo, mostra que, apesar da tentativa de moderação, Tarcísio se mantém como um dos principais alvos do campo lulista e é tratado como o nome favorito de Jair Bolsonaro (PL) para disputar a Presidência em 2026.

Desde 9 de julho, quando Donald Trump anunciou o “tarifaço” contra o Brasil, foram registrados 6,8 milhões de conteúdos sobre o governador nas redes, um aumento de quase três vezes em relação ao período anterior.

A análise mostra que o crescimento das menções se deve à combinação entre temas locais e nacionais. Entre os assuntos que mais impactaram a popularidade digital de Tarcísio estão as sanções estadunidenses ao Brasil, o projeto de anistia ao bolsonarismo, os pedágios do sistema “free flow”, a crise do metanol, o caso Ultrafarma e a polêmica sobre a cobrança de ICMS sobre gorjetas em bares e restaurantes.

Ao comentar a crise do metanol, no início do mês, veio as críticas mais severas até de setores que o apoiam. Na ocasião, ao tentar fazer piada em uma coletiva de imprensa, ele disse que só se preocuparia com a contaminação de bebidas, que causaram mortes no estado, quando o refrigerante Coca-Cola fosse atingido. A intenção dele seria fazer um aceno aos evangélicos e atacar o presidente Lula (PT), chamado de “pinguço” pela direita.

“Em todos os casos, os principais críticos ao governador foram perfis alinhados ao governo Lula, mostrando que ele é considerado o provável adversário em 2026”, afirmou André Eler, diretor técnico da Bites, sobre o bolsonarista que recebe apelidos como “Pedágio de Freitas”.

Apesar da ofensiva virtual, Tarcísio ampliou seu alcance nas redes. Nos últimos três meses, ele conquistou quase 400 mil novos seguidores, enquanto a taxa de engajamento (curtidas, comentários e compartilhamentos) subiu 43%. A equipe do governador, porém, modera comentários e exclui postagens consideradas ofensivas, o que pode ter reduzido os números de interação medidos.

Segundo Letícia Capone, pesquisadora da PUC-Rio e diretora do Instituto Democracia em Xeque, a postura mais contida do governador busca evitar atritos com o próprio campo bolsonarista. “Os perfis mais ligados a Jair Bolsonaro esperam um aceno para 2026, e Tarcísio tenta evitar o fogo amigo dentro da direita”, avaliou em entrevista ao Globo.

O tema mais recente a colocar o governador sob críticas foi a tributação das gorjetas em São Paulo. O debate começou após a Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado (Fhoresp) pedir que o governo deixasse de autuar estabelecimentos que não recolhem ICMS sobre caixinhas superiores a 10%.

Tarcísio com boné da campanha de Donald Trump nos EUA. Foto: reprodução

A Secretaria da Fazenda respondeu que as regras vigentes foram criadas ainda na gestão de Geraldo Alckmin, em 2012, e que não houve mudança recente. “Eles ficaram satisfeitos com a reunião. Nada mudou desde o decreto de 2012”, explicou Rogério Campos, secretário-executivo da pasta.

Mesmo assim, o caso virou munição política. “Tarcísio taxou até a gorjeta dos garçons. Taxísio odeia o povo”, publicou o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP).

A deputada Erika Hilton (PSOL-SP) enviou uma representação ao Tribunal de Contas do Estado cobrando providências. “A Fazenda paulista vem aplicando autuações retroativas e multas expressivas, criando insegurança jurídica e queda de remuneração para trabalhadores que dependem das gorjetas”, escreveu.

Um secretário próximo de Tarcísio rebateu as críticas: “O governador está sendo atacado porque é visto como o principal adversário do presidente. Ninguém tem limite para usar informação falsa contra ele”.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.